IPCA fechou o ano em 6,29%, abaixo do teto da meta da inflação do Banco Central. Copom se reúne nesta quarta-feira para decidir a nova taxa de juros.
Por Anay Cury, Marta Cavallini e Laís Lis, G1
A forte desaceleração da inflação oficial, divulgada nesta quarta-feira (11), fortalece a aposta dos economistas de que o Comitê de Política Monetária (Copom) vai acelerar o ritmo de redução da taxa básica de juros (Selic). Depois de duas reduções de 0,25 ponto, o grupo se reúne nesta tarde, quando deverá anunciar mais um corte. Hoje, os juros estão em 13,75% ao ano.
Rogério Mori, professor da Escola de Economia de São Paulo da Fundação Getulio Vargas (FGV), considera que a taxa Selic deverá cair nesta quarta-feira e seguir ritmo ao longo do ano. Em 2016, a inflação fechou em 6,29%, abaixo do teto de metas em vigor no país. A estimativa mais recente dos economistas dizia que o IPCA chegaria no final do ano a 6,35%.
“A queda deve ficar em meio ponto percentual, o que levará a taxa Selic para 13,25% ao ano. Essa queda se alinha, de um lado, com a convergência da inflação para o centro da meta, de 4,5%, e, por outro, com o debilitado ritmo da atividade econômica brasileira. Nesse sentido, a queda recente da inflação abriu espaço para cortes na taxa de juros por parte do Banco Central, o que estimulará a demanda e a produção no médio prazo”, diz.
Segundo ele, se o comportamento da inflação for mesmo de queda e se a economia brasileira continuar debilitada, pode haver cortes mais agressivos na taxa básica de juros. “Há ainda o cenário externo, não sabemos como será a economia americana com Donald Trump”, diz. Segundo Mori, o mercado trabalha com taxa de juros de 10,5% até o final de 2017.
Apesar da queda nos juros, Mori recomenda cautela para os consumidores. “O ritmo da atividade econômica brasileira segue fraco e a tendência do desemprego é de elevação no primeiro trimestre do ano. Nesse sentido, não é recomendável que novas dívidas sejam assumidas nesse cenário. Ao mesmo tempo, a queda da Selic traz algum alívio marginal para quem está endividado, uma vez que as taxas de juros devem registrar algum recuo. De qualquer forma, o quadro atual inspira conservadorismo em termos de gastos e de dívidas”.
Para o professor de finanças da Fundação Instituto de Administração (FIA), Alexandre Cabral, o “problema” da inflação está bem encaminhado, o que deverá pressionar o Copom a baixar mais os juros.
“Estamos com juros reais (descontada a inflação) na casa de 8%, que é considerado um valor muito alto para qualquer economia”, afirma.
O economista do Mackenzie Pedro Raffy Vartanian acha que a tendência é que a inflação convirja para a meta de 4,5% no decorrer deste ano, o que abre espaço para o Banco Central reduzir mais a taxa de juros. “Até porque a política monetária já mostrou os resultados esperados”, diz.
Segundo ele, a manutenção de uma alta taxa de juros ao longo de 2016 ajudou na queda da inflação, pois impactou a atividade econômica, o crédito, os gastos dos consumidores e investimentos dos empresários em novos negócios. “Isso gerou queda na demanda da economia, o que provocou queda nos preços. É o efeito colateral da política monetária”, afirma.
Para Vartanian, o processo de redução da taxa de juros será gradual. Sua aposta é que a atividade econômica continuará enfraquecida neste primeiro semestre, com possibilidade de melhorar só a partir do segundo semestre e retomada um pouco mais contundente no ano que vem.
Vartanian estima que a taxa de juros deve ficar entre 9% a 10,5% até o final do ano.
Marcos Mollica, sócio gestor de portfólio da Rosenberg Investimentos, acha que o Copom vai acelerar o corte de juros em 2017, chegando muito próximo de 10% no final do ano. “Vai depender de como evoluirá a atividade econômica e se essa queda da inflação vai se confirmar no próximo mês”, diz.
Para ele, a inflação de 2016 veio ligeiramente abaixo do que se esperava. Segundo Mollica, ajudaram muito no índice de dezembro o item alimentação e principalmente o setor de serviços, que vem apresentando desaceleração. “Assim aumentam as chances de 2017 ter uma inflação que deve convergir para a meta de 4,5% até o final do ano”, diz.
Cortes
Em outubro, o BC realizou o primeiro corte na Selic em quatro anos, quando ela passou de 14,25% para 14%. Em novembro, o comitê fez o segundo corte, e a taxa foi para 13,75%, patamar atual. O mercado espera que o Copom anuncie nesta quarta um corte mais agressivo, de 0,50 ponto percentual, o que levaria a Selic para 13,25% ao ano.
Alguns economistas apostam num corte ainda maior, de 0,75 ponto percentual. Em relatório divulgado para clientes, o Itaú afirma que “a queda na inflação corrente (mais intensa e difundida do que o esperado) e a perspectiva de retomada econômica ainda mais lenta do que se antecipava sugerem um corte mais agressivo na taxa de juros. Acreditamos que o Copom irá reduzir a Selic em 0,75 ponto percentual, que nos parece ser consistente com a sua comunicação atual, bem como com os últimos indicadores econômicos”.
Como é ação do BC
O aumento dos juros, ou sua manutenção em um patamar elevado, é o principal mecanismo usado pelo BC para frear a inflação. O objetivo é encarecer o crédito e reduzir o consumo no país.
Juros altos, no entanto, prejudicam a atividade econômica e, consequentemente, inibem a geração de empregos. Quando o Banco Central julga que a inflação está compatível com as metas preestabelecidas, pode baixar os juros.
No mais recente Boletim Focus, os economistas ouvidos pelo Banco Central reduziram suas estimativas para a inflação. Para este ano, o mercado espera uma inflação de 4,81%.
Para 2016, 2017 e 2018, a meta central é de inflação em 4,5%. Entretanto, o sistema prevê um piso e um teto, que é de inflação em 6,5%, em 2016, e em 6% em 2017 e 2018.