Após anos sucessivos de crescimento forte, o comércio esfriou neste ano e tende a crescer entre 4,5% e 5%, apesar de estímulos como a Copa do Mundo –que já impulsiona as vendas de TVs, por exemplo. Analistas dizem que a inflação maior, os juros mais elevados e o crédito em desaceleração explicam o desempenho mais fraco do comércio, que em março registrou sua primeira queda (de 1,1% ante março de 2013) em um ano. O presidente da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo, Antonio Oliveira Santos, disse que “acontecimentos recentes têm gerado certo desânimo no empresariado”. O executivo cita a inflação, a oferta de crédito e a política econômica do governo. Diante desse cenário, ramos importantes do comércio venderam menos em março. Diante da inflação maior dos alimentos, o ramo de supermercados registrou queda de 1% e puxou o varejo para baixo na comparação com fevereiro –na média, houve queda de 0,5% nesse indicador. O desempenho só não foi pior por conta da expansão de 1,5% de móveis e eletrodomésticos, já sob impacto da venda de TVs para a Copa. Para o economista chefe da CNC (Confederação Nacional de Comércio), Carlos Thadeu de Freitas, “não é hora do empresariado acumular estoques”, apesar da Copa. Segundo ele, o aumento dos preços dos alimentos, taxas de juros mais altas, expectativa de uma inflação em torno de 6,5% e os aumentos de luz e gasolina previstos para o ano que vem indicam um cenário menos favorável. “Os juros devem continuar elevados. Agora é hora de cautela, sobretudo em relação aos estoques”, afirmou. Uma boa notícia, porém, é o câmbio, que apresenta menor volatilidade, o que reduz as incertezas. VEÍCULOS O IBGE pesquisa ainda o indicador do comércio varejista ampliado, cuja retração de fevereiro para março foi ainda mais intensa –1,1%. O ramo de veículos registrou queda de -0,6%. Para Aleciana Gusmão, técnica do IBGE, o setor já “começa a refletir” a alta dos estoques e a ausência do “incentivo” do IPI reduzido, estímulo que está sendo retirado de modo gradual pelo governo. O ramo de material de construção também teve desempenho ruim, com perda de 3,1% de fevereiro para março. Ambos vendem também por atacado, por isso, integram o índice do comércio ampliado. PEDRO SOARES |