Nem a Copa do Mundo, nem a eleição. Os dois grande eventos do ano não devem atrapalhar as negociações durante as campanhas salariais, segundo dirigentes dos principais sindicatos da região. A luta, segundo eles, será para conquistar o aumento real sobre os salários, em meio ao quadro de desaquecimento econômico. Em 2013, variou entre 1% a 3% – índices longe daqueles esperados pelos trabalhadores.
O cenário econômico, com inflação próxima ao teto, é o principal vilão de todas as categorias trabalhistas. São os culpados por corroer os rendimentos daqueles que enfrentam o chão de fábrica. No ano, incluindo os números de abril, o IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) acumula variação de 2,86% e, em 12 meses, de 6,28%, dentro do teto da meta de inflação do Banco Central, que é de 6,5%. Em abril do ano passado, o indicador ficou em 0,55%. “Todos os anos são difíceis. Quando chega a hora de negociar começa a choradeira das empresas, ainda mais nessa categoria, na qual 80% são empregados pelas autopeças, fornecedoras diretas das automobilísticas”, explica o presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de Santo André e Mauá, José Braz Fofão.
As negociações dos trabalhadores pertencentes a três fortes categorias no Grande ABC (metalúrgicos, bancários e químicos) ocorrem no segundo semestre. Estarão em campanha, na região, 177 mil trabalhadores, conforme últimos balanços. Desse contingente, 40 mil pertencem às indústrias químicas, 7.000 são funcionários das instituições bancárias, e o restante são metalúrgicos (incluindo apenas as bases dos sindicatos de Santo André e Mauá e do ABC). Neste ano, os funcionários da GM (General Motors) de São Caetano não farão campanha, já que em 2013 o acordo assinado foi válido por dois anos. “Temos acordo até 31 de agosto de 2015. Tivemos reajuste de 8%, sendo 6,07% de reposição da inflação, e 1,82% de aumento real. Foi a primeira vez que fechamos cláusulas econômicas por mais de um ano”, conta o diretor executivo do Sindicato dos Metalúrgicos de São Caetano Agamenon Alves. Para ele, a decisão foi acertiva diante do cenário econômico atual. “A verdade é que a concorrência com as empresas automobilísticas que invadiram é País é desleal.”
O secretário-geral e de imprensa do Sindicato dos Químicos do ABC Sidney Araújo dos Santos torce para que até agosto a inflação comece a declinar. “Precisamos de fôlego para negociar. Mas, além do aumento real, uma das principais cláusulas nossa e das demais categorias é a redução da jornada e vamos pegar firme neste item este ano.”
Segundo ele, dois terços do crescimento do País é sustentado pela capacidade de compra das famílias. “Taí nosso dever em garantir o aumento da renda e o posto de trabalho.”
LADO CONTRÁRIO – “Faço parte de um dos segmentos que mais lucram neste País. Os bancos se dão bem sempre. Quanto mais pessoas inadimplentes, maior é o lucro das instituições. Por isso, não vamos abrir mão do aumento real”, destaca o presidente do Sindicato dos Bancários do ABC Eric Nilson.
Ele conta que apenas o Itaú teve um lucro 29% maior neste primeiro semestre, em comparação com o mesmo período do ano passado. “Mesmo assim, o Itaú junto ao Santander demitiram 1.703 pessoas nos primeiros três meses. Não há coerência, há?”, questiona.
PAUTAS – Com data-base em 1º de setembro, em meados de agosto, os dirigentes do Sindicato dos Bancários vão começar a discutir os itens que serão levados para mesa de negociação. “Daremos start na campanha, junto com o comando nacional”, conta o presidente Eric Nilson.
Em setembro também será a vez do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC negociarem com as empresas da base. Nesse período a pauta já deve estar consolidada na visão do presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de Santo André e Mauá, José Braz Fofão. “Nossa data base é em 1º de outubro. Temos o mês de setembro para sentarmos com os sindicatos patronais e negociar pelos nossos colaboradores.”