
Além da publicidade, jornal fará produto editorial especial e curso gratuito online sobre o que foi a ditadura militar
No mesmo fim de semana, a Folha publicará o projeto especial “O que Foi a Ditadura”, que disseca o período autoritário de 1964-85 e é direcionado principalmente a pessoas que não o viveram diretamente.
Uma pesquisa Datafolha com a opinião dos brasileiros sobre a ditadura e o grau de conhecimento a respeito de alguns de seus pontos mais marcantes também será divulgada.

De acordo com o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), 54,2% da população brasileira nasceu após o ano de 1985, quando o regime militar terminou. Somando os que eram crianças de até 10 anos nessa data, o percentual sobe para 69,4%.
Na mesma linha, estreia também no dia 28 um curso online gratuito de quatro aulas, com uma hora de duração cada uma, promovido pela Folha (as inscrições podem ser feitas aqui). O objetivo é explicar didaticamente as várias fases da ditadura, dos antecedentes do golpe de 31 de março de 1964 até a transição para a democracia.
“O papel institucional de um jornal como a Folha é mostrar de maneira didática e sem viés o que aconteceu, para que não aconteça mais. Não há solução fora da democracia, não há caminho que não o da Constituição”, afirma o diretor de Redação da Folha, Sérgio Dávila.
A campanha do jornal contra a ditadura é inspirada na mobilização das Diretas Já, em 1984, em que a Folha teve papel de destaque, e foi criada internamente.
Há 36 anos, uma faixa amarela foi acrescentada embaixo do cabeçalho do jornal, junto da frase “Use amarelo pelas diretas já”. Agora, a faixa retorna, com a frase “#UseAmarelo pela Democracia”, nas versões impressa e digital. O filme publicitário será veiculado ainda em canais de TVs abertas e pagas e em mídias sociais.
O amarelo foi a cor das Diretas e, embora com variações, principalmente na camisa da seleção brasileira, tenha sido apropriado por Jair Bolsonaro e seus apoiadores, vem sendo resgatado por grupos com bandeiras pró-democracia surgidos nas últimas semanas, como o Estamos Juntos e o Somos 70 por cento, referência ao percentual apontado em pesquisas Datafolha de pessoas que não aprovam a gestão do atual presidente.
A ditadura militar foi marcada por ausência de eleições presidenciais diretas, interferência do regime nos Poderes Legislativo e Judiciário, censura e repressão violenta à oposição, com assassinatos e tortura como políticas de Estado.
“O objetivo das ações é mostrar para esta geração o que foi aquele regime de exceção, seus horrores, a tortura sistemática, o desaparecimento dos adversários políticos, a cassação dos direitos fundamentais, como o do voto direto”, diz Dávila. “Além disso, acabar com o mito do regime incorruptível e democrata.”
Na economia, a ditadura adotou um modelo que, se teve momentos de euforia com taxas expressivas de crescimento, deixou a semente para hiperinflação, aumento da desigualdade e endividamento externo.
Também favoreceu a corrupção em grandes obras públicas e gerou escândalos que só não foram mais divulgados em razão da falta de transparência do período e da perseguição à imprensa.
As inscrições para o curso gratuito podem ser realizadas em oquefoiaditadura.folha.uol.com.br.
“As pessoas, especialmente as mais jovens, tendem a dar de barato que a democracia é uma coisa que sempre esteve aí. Mas se esquecem, ou não sabem, que nem sempre foi assim”, afirma Pilagallo, autor de “A História do Brasil no Século XX” (Publifolha) e coautor de “O Golpe de 64” (Três Estrelas), entre outros livros.
Na Folha, Pilagallo desempenhou diversas funções, entre elas a de editor de Economia, nos anos 1990.
Segundo o jornalista, o discurso de justificar o golpe e a repressão da ditadura para evitar um mal maior, no caso uma suposta ameaça comunista, tem crescido nos últimos anos, propagado sobretudo por Jair Bolsonaro e seus aliados.
O presidente, que tem um histórico de elogios ao período da ditadura militar do país, já participou de atos de apoiadores que ostentavam bandeiras antidemocráticas, como pedido de intervenção das Forças Armadas e de fechamento do STF (Supremo Tribunal Federal). Um inquérito na corte investiga quem são os financiadores desse tipo de manifestação.
Pilagallo diz que seu objetivo é que o curso seja analítico e equilibrado, retratando fielmente as diversas facetas da ditadura.
“O desafio é grande, exatamente pela polarização que vivemos. Certamente, qualquer visão mais equilibrada tende a apanhar dos dois lados”, afirma.