Com medidas de incentivos do governo e queda dos juros, as famílias brasileiras estão mais dispostas a gastar
Para confederação do comércio, o alto endividamento impede escalada ainda maior da intenção de gastar
Folha de SP
MARIANA SALLOWICZ DE SÃO PAULO
Apesar do endividamento em alta, a intenção de consumo das famílias brasileiras cresceu em junho. A elevação foi de 3,4% na comparação com o mesmo mês de 2011.
“As recentes reduções nas taxas de juros pelos bancos e as medidas de estímulo à economia aumentaram a propensão a gastos”, afirma Bruno Fernandes, economista da CNC (Confederação Nacional do Comércio), que divulgou ontem o levantamento.
As ações de incentivo ao consumo, anunciadas em maio, englobam corte no IOF (Imposto sobre Operações Financeiras) e reduções no IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados) para veículos.
O crescimento da massa salarial também é apontado como razão para a alta. “Esses ganhos têm impulsionado o consumo à vista”, diz.
André Braz, economista da FGV (Fundação Getulio Vargas), considera que a disposição para compra poderá perder o fôlego com o agravamento da crise internacional e seus reflexos no país.
“O ideal é consumir apenas se houver uma reserva financeira, ainda mais em um cenário de desaceleração da economia”, diz.
Segundo a CNC, o alto nível de endividamento vem impedindo uma escalada mais forte da disposição ao consumo. “As famílias estão postergando os gastos por estar com o orçamento comprometido”, diz Fernandes.
Os paulistanos atingiram em maio o maior nível de endividamento deste ano. Pesquisa da Fecomercio SP mostra que 53,2% das famílias de São Paulo têm algum tipo de dívida.
CHEQUE
A inadimplência também segue em trajetória de alta. Outro indicador, divulgado ontem pela Serasa Experian, mostra que o volume de cheques sem fundos atingiu nível recorde (2,2%). Foi o maior percentual para o mês de maio desde 2009, auge da crise internacional.
“Os cheques acompanham o movimento da inadimplência total [que inclui dívidas não bancárias, protestos e débitos com bancos]”, diz Carlos Henrique de Almeida, economista da Serasa.
A alta na inadimplência geral foi de 6,2% no mês passado, a maior no ano.
Segundo ele, os cheques sem fundos têm a tendência de aumentar em período de alto endividamento. “Muitos consumidores preferem manter o pagamento mínimo do cartão de crédito, para continuar se financiando, e optam por dever no cheque”, diz.
Apesar de o uso do cheque ter sido reduzido, ainda há muita aceitação em academias e lojas.