Investimento na indústria crescerá 26%


Estudo da Fiesp indica que as empresas deverão investir R$ 152 bi este ano, em aumento de capacidade de produção, gestão e pesquisa 94% das empresas pretendem investir este ano, diz a Fiesp

Marcelo Rehder – O Estado de S.Paulo

A recuperação da atividade econômica levou empresas de setores voltados ao mercado doméstico a retomarem projetos de investimento que ficaram engavetados durante a crise financeira mundial.

Pesquisa da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), com 1.232 empresas em todo o País, indica que a indústria de transformação vai investir este ano R$ 151,9 bilhões em máquinas, equipamentos, instalações, gestão, inovação e pesquisa e desenvolvimento (P&D).

O valor é 26,4% maior que os R$ 120,2 bilhões de 2009. Só para máquinas e equipamentos, deverão ser destinados R$ 92,7 bilhões , 14,6% mais que no ano passado (R$ 80,9 bilhões). Com base nesse número, a Fiesp estima que a taxa de investimento atingirá 18,4% do Produto Interno Bruto (PIB) em 2010.

Para a Fiesp, isso seria suficiente para garantir crescimento do PIB superior a 5,5% no ano, o que tornaria desnecessária a elevação da taxa básica de juros (Selic) esperada pelo mercado e já sinalizada pelo Banco Central.

Normalmente, seria necessário alcançar taxa de investimento de 25% do PIB para que a economia pudesse crescer acima de 5,5% sem provocar pressões inflacionárias. Com a crise, no entanto, boa parte das empresas, segundo a Fiesp, ainda trabalha com folga de capacidade, por causa da queda das exportações,

“A volta dos investimentos, dos turnos desativados e das horas extras garante o atendimento da demanda com crescimento de 5,5%”, afirma o diretor do Departamento de Competitividade e Tecnologia da Fiesp, José Ricardo Roriz Coelho, que coordenou a pesquisa.

Alta do juro. A maioria dos economistas de mercado pensa de forma diferente. “Para proteger a meta de inflação, o BC terá de iniciar um processo de alta do juro”, diz o ex-presidente do BC Gustavo Loyola. “Acreditamos que uma alta de 2,5 pontos porcentuais nos próximos meses seria suficiente para colocar os juros no ponto de equilíbrio.”

A pesquisa mostra que os investimentos das empresas vão focar a expansão do mercado, mas sem deixar de se preocupar com uma produção eficiente e custos reduzidos. “As empresas querem recompor margem e participação de mercado perdidas em 2009”, diz Roriz Coelho.

A principal origem dos recursos para investimento continuará a ser o caixa da empresa. No entanto, a demanda por recursos públicos deverá aumentar de 12,8% para 17,3% do investimento, o que exigiria esforço adicional do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).

“O BNDES tem exercido papel fundamental como indutor do investimento, mas ainda fala só a linguagem das grandes empresas, que podem recorrer ao mercado de capitais”, diz Roriz Coelho. Não por acaso, segundo Roriz, os investimentos estão concentrados nas grandes empresas, responsáveis por 79,5% do total previsto para o ano.

93,8% das indústrias devem investir

Segundo pesquisa da Fiesp, no ano passado o porcentual das empresas que afirmaram que iriam investir era de 85,1%

Marcelo Rehder – O Estado de S.Paulo

A retomada dos projetos de investimento é generalizada entre praticamente todos os setores da indústria de transformação, exceto exportadores. O número de empresas que pretendem investir em 2010 subiu de 85,1%do total no ano passado para 93,8%, segundo pesquisa da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), que ouviu 1.232 empresas em todo o País.

A Braskem, gigante brasileira do setor petroquímico, vai aumentar em 33% os investimentos este ano, de R$ 900 milhões em 2009 para R$ 1,2 bilhões.

“O mercado brasileiro vem respondendo bem desde o segundo semestre do ano passado”, diz o vice-presidente de relações institucionais e desenvolvimento sustentável da Braskem, Marcelo Lira.

Animada com o impulso da construção civil, a multinacional brasileira Tigre, líder no segmento de tubos, conexões e acessórios em PVC no País, decidiu investir R$ 200 milhões na ampliação da capacidade produtiva e em pesquisa e desenvolvimento. Em 2009, os investimentos foram de R$ 150 milhões.

Segundo o presidente do grupo Tigre, Evaldo Dreher, o aumento da capacidade será de 20%, equivalente a um acréscimo de 30 mil toneladas na produção anual. A capacidade atual é da 300 mil toneladas por ano.

Com fábricas no Brasil e mais oito países, a Tigre pretende contratar 300 pessoas, a maioria para fábricas no País. Hoje, a empresa emprega 6,2 mil trabalhadores, dos quais 4,8 mil no Brasil.

Com o mercado interno em alta e as importações em baixa, graças à tarifa antidumping (concorrência desleal) aplicada pelo governo sobre calçados chineses, a Vulcabrás planeja investir cerca de R$ 160 milhões em 2010. Em 2009, com a crise, os aportes limitaram-se a R$ 50 milhões em projetos de inovação.

Os investimentos neste ano deverão garantir aumento de 30% na produção , além de abrir mais de 8 mil vagas. Hoje, a Vulcabrás emprega 41 mil pessoas.

“Terminamos o primeiro trimestre, que tradicionalmente é um período fraco para o setor, com estoques de produtos acabados para dez dias. No ano passado, esse número estava em 60 dias”, diz o presidente da Vulcabrás, Milton Cardoso.

Gargalos. A carga tributária continua a ser o maior entrave ao investimento, citada por 67% das empresas na pesquisa da Fiesp. Além de reduzir o consumo, ela retira recursos que poderiam ser reinvestidos.

Para as pequenas e médias empresas, que dependem essencialmente de seus próprios recursos, um dos principais entraves ao investimento justamente a falta de recursos.

As grandes são as que mais investem nas inovações e melhorias dos produtos. Porém são elas que apontam o câmbio como um dos limitadores à realização de investimentos, já que o real fortalecido em relação ao dólar tira competitividade do produto brasileiro.