Juros podem dobrar valor do empréstimo no crédito pessoal

Folha de S.Paulo

MARIA PAULA AUTRAN
DANIEL TREMEL
DE SÁO PAULO

Encargos como juros, tarifas e seguros podem levar o valor final de um crédito pessoal a mais do que dobrar.

É o que mostra uma pesquisa da Proteste (associação de defesa do consumidor), obtida com exclusividade pela Folha, que fez três simulações de crédito pessoal em 13 instituições financeiras e mostrou que o chamado CET (custo efetivo total) aumenta muito o total do empréstimo.

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Um crédito de R$ 2.000 pode sair por mais de R$ 4.500 ao final da quitação.

O CET considera a taxa de juros cobrada pela instituição e outras despesas incluídas na operação de crédito, como tarifas e seguros. Por isso, a associação alerta que, para saber qual o crédito mais vantajoso, é preciso olhar o CET.

“Se você precisou do crédito, faça uma pesquisa nos bancos, sempre olhando o CET”, diz Renata Pedro, estatística da Proteste.

DIFICULDADES

As instituições financeiras são obrigadas, por uma resolução do Banco Central, a informar o custo efetivo total antes da contratação de um crédito, a qualquer tempo, a pedido do cliente.

A pesquisa relatou, porém, dificuldades em algumas delas para obter a informação.

O HSBC não informou o CET na simulação feita pelo Proteste -sem se identificar- na agência, e avisou que o cliente só obteria essa informação na hora do contrato.

No banco Cacique, na BV Financeira e no Panamericano, em simulações feitas por telefone, foi informada apenas a taxa de juros, mesmo após o CET ser pedido.

As outras instituições informaram o CET, embora, em alguns casos, somente depois de mais de uma tentativa.

A pesquisa mostrou que o custo efetivo total encontrado em alguns bancos era muito mais elevado do que as taxas de juros informadas pelo BC em novembro de 2012.

A distância não deveria ser tão grande já que, entre os custos que compõem o CET, os juros representam a fatia mais alta.

Segundo o estudo, no BC, as taxas de juros -que não incluem demais despesas da operação- variavam de 24% ao ano a 63% ao ano e os valores de CET calculados pela Proteste ficaram entre 49% e quase 199% ao ano. Esses valores se referem apenas aos bancos. As taxas de juros das financeiras não foram encontradas pela Proteste no BC.

“O CET não é muito mais alto que a taxa de juros. Comparamos [os juros] com o CET para ver se estava no mesmo padrão e não estava. As taxas de juros são os bancos que informam ao BC”, diz Renata.

Segundo a Proteste, o valor do CET cobrado pelas financeiras pode chegar a 500%. Essas instituições, em geral, oferecem condições piores do que a dos bancos porque fazem menos exigências para emprestar.

A Proteste fez a pesquisa se passando por consumidor nas 13 instituições, algumas vezes, na própria agência e, em outras, por telefone ou pela internet, e calculou o CET com base no valor da parcela do empréstimo.

Especialistas dizem que o consumidor deve exigir todas as informações antes de contrair um empréstimo. “A pessoa está vulnerável. É parte do negócio do banco vender dinheiro. Você tem que exigir tudo”, diz o educador financeiro Reinaldo Domingos.

A PESQUISA

A Proteste é uma entidade civil de defesa do consumidor sem fins lucrativos. A pesquisa foi realizada com as 13 maiores instituições financeiras com linhas de crédito pessoal, entre outubro e novembro.

Além de cinco questionários respondidos, a Proteste fez simulações como se fosse um cliente, em agências, por internet ou por telefone.

OUTRO LADO

A Folha procurou as instituições financeiras citadas na pesquisa para saber em que condições o consumidor tem acesso ao CET, por que as taxas de juros divulgadas pelo BC em novembro de 2012, em alguns casos, são tão diferentes do CET -encontrado pela pesquisa- e a razão do valor total ser, muitas vezes, tão maior do que o emprestado.

O HSBC, o PanAmericano, o Itaú e o Bradesco se pronunciaram pela Febraban (Federação Brasileira de Bancos).

Em nota, a entidade afirmou que o BC mostra a taxa de juros média cobrada pelas instituições e em um determinando período. E que a taxa de juros efetiva de um contrato de empréstimo depende da análise do risco de crédito de cada operação e poderá ser diferente da taxa média divulgada pelo BC.

Disse também que os bancos cumprem a resolução do BC para a divulgação do CET.

A BV Financeira afirmou, em nota, que não teve acesso aos dados da pesquisa e não os comentaria. A empresa diz que pratica as taxas médias de mercado e que cumpre à risca a legislação em vigor e as determinações do BC.

O Santander disse que informa o CET, que as taxas do BC são sem encargos -diferentemente do CET- e que o valor financiado tem encargos e despesas e o valor pago corresponde às parcelas de amortização do valor emprestado mais juros pelo prazo.

O BB diz que fornece o CET, que o BC divulga taxas médias e que o valor da operação varia em função do IOF e prazo para pagamento da primeira parcela. O banco também afirma que não há grande diferença entre taxa e CET.

O Banrisul disse que informa o CET e que o valor dele e as taxas de juros informadas ao BC obedecem normativo da instituição. O Cacique, o IBI (Cheque e Cred), o Citibank e a Caixa não responderam até o fechamento da reportagem.