Valor Econômico
Os ministérios da Defesa e das Cidades foram os alvos preferidos nos cortes efetuados pelos leitores do Valor que participaram do Simulador Orçamentário. A ferramenta, lançada em parceria com a Fundação Getulio Vargas (FGV), desafia o usuário a, pelo menos, zerar o déficit de R$ 30 bilhões no Orçamento de 2016 enviado ao Congresso pelo governo federal. Quem quiser tem ainda mais três dias, até quinta-feira, 10, para participar do simulador, segundo projeto realizado com a Diretoria de Análises e Políticas Públicas (Dapp/FGV).
Em menos de um mês e meio, 1.043 usuários enviaram suas preferências orçamentárias por meio do site do Valor e do Valor PRO, serviço de informações em tempo real do Valor. Em números absolutos, os maiores cortes se concentraram nos ministérios da Defesa (R$ 11,57 bilhões) e das Cidades (R$ 8,05 bilhões) e no Poder Judiciário (R$ 4,74 bilhões). Em termos proporcionais, as maiores reduções se concentraram na Presidência da República (75% do orçamento discricionário do órgão), no Legislativo (74,4%) e novamente no Judiciário (67,8%).
As tesouradas no Ministério da Defesa revelam uma tendência na preferência dos leitores e também a maior facilidade de se enxugar recursos da área. A pasta tem um dos maiores orçamentos discricionários – não obrigatórios e passíveis de cortes -, que chega a 38% do total destinado ao ministério. No Orçamento Geral da União, os recursos discricionários representam menos de 9%, o que reduz os graus de liberdade e complica o equilíbrio das contas públicas.
A opção pelo aumento de despesas – e, logo, de impostos – foi rechaçada pelos participantes. De acordo com o pesquisador Rafael Martins de Souza, do Dapp, um dos resultados que mais chamaram a atenção foi o percentual de usuários que decidiram fazer o ajuste no Orçamento com elevação de despesa: só 11%. “Isso parece apontar para um certo limite ao tamanho do Estado”, diz.
O orçamento do Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, responsável pelo Bolsa Família, é, em termos absolutos, o quarto mais atingido: perderia R$ 3 bilhões, pelas propostas enviadas até agora. O da Saúde é o quinto, com cortes de R$ 2,71 bilhões. A pasta da Educação, uma das mais visadas no início do Simulador Orçamentário, deixou a lista dos cinco órgãos mais afetados.
Entre os mais preservados estão a Secretaria dos Portos e os ministérios do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior e o de Minas e Energia. Essas pastas, na visão dos leitores, mereceriam até acréscimos de recursos em relação ao projeto enviado pelo governo, respectivamente, de R$ 500 milhões, R$ 490 milhões e R$ 470 milhões.
Os ministérios da Ciência e Tecnologia e do Meio Ambiente vêm em seguida, com aumento de R$ 160 milhões e R$ 80 milhões. Na visão dos pesquisadores da Dapp, isso reflete a preocupação com a agenda da infraestrutura e de investimento.
Depois de encerrado o serviço, a Dapp fará um estudo com os principais resultados do Simulador, com cruzamentos que mostrarão a diferença nas preferências dos leitores por recortes como gênero e escolaridade.