Postos de trabalho devem ser fechados
O número de usinas sucroalcooleiras que ficará de portas fechadas no Brasil na safra 2018/19, que terá início em abril, deverá ser maior que no ciclo atual. A tendência ainda reflete a crise que abalou muitas empresas do setor na primeira metade desta década e que até hoje recai sobre a produtividade dos canaviais, mas também tem relação com os problemas climáticos que limitaram a produção nos últimos anos.
De um total de 444 usinas espalhadas pelo país, pelo menos 79 não ligarão as máquinas na próxima temporada, conforme levantamento da RPA Consultoria – em 2017/18, 76 unidades não operaram. Mas o número poderá ser maior, já que diversas companhias com poucos recursos em caixa ainda estão definindo sua programação. Neste ano, o inverno mais seco que o normal no Centro-Sul, que concentra o maior número de unidades, colabora para alimentar incertezas sobre a produtividade em 2018/19 e mantém alguns planos indefinidos.
“Tem muita boca [moenda] e pouca cana”, diz Ricardo Pinto, sócio da RPA. Segundo ele, será difícil o Centro-Sul chegar a uma moagem de 560 milhões de toneladas de cana no ciclo que está por vir, ante as cerca de 580 milhões estimadas pela empresa para a safra que está chegando ao fim. Como o volume de 2017/18 foi menor que o de 2016, mais usinas viram sua capacidade ociosa aumentar.
O cenário é agravado pela queda dos preços do açúcar, que tem forçado mesmo as companhias que estão com melhor saúde financeira a conter gastos para preservar margens. E há questões estratégicas que pesam na balança. A Raízen Energia, por exemplo, decidiu encerrar as operações da Usina Tamoios, em Araraquara, e a unidade que tem em Dois Córregos, município também localizado no interior paulista. A primeira produz apenas açúcar, enquanto a segunda faz açúcar e etanol.
Segundo a empresa, que tem elevado os investimentos na área agrícola, outras usinas suas nas mesmas regiões absorverão a matéria-prima disponível das unidades fechadas. Pesou nessa decisão o fato de a Raízen ter adquirido recentemente duas usinas do grupo Tonon, cujas lavouras estavam com baixa produtividade após um longo período de dificuldade financeira da empresa.
Assim, essa estratégia não reduzirá o volume de processamento do grupo. Em nota, a Raízen informou que as paralisações se dão em “um cenário de menor disponibilidade de cana nessas regiões e da otimização logística e de produção” e deverão durar ao menos dois anos.
Outra que não vai entrar em ação na próxima safra é a usina da Biosev na cidade sul-mato-grossense de Maracaju. A unidade, que produz açúcar e etanol, tem capacidade para processar 1,8 milhão de toneladas de cana por safra, mas vinha moendo menos, mesmo com mais aportes da empresa em suas operações agrícolas no país. A cana que iria para a usina agora será entregue a outras duas unidades da companhia na região, que têm maior capacidade de processamento. Além disso, essas usinas podem utilizar bagaço de cana para gerar energia elétrica, o que potencializa os ganhos com a mesma quantidade de matéria-prima.
De uma maneira geral, o fechamento de unidades tem tido mais impacto sobre os empregos do segmento do que sobre a produção. Apenas a paralisação dessas três usinas adicionais em 2017/18 significará uma redução de ao menos 750 postos de trabalho. Na terça-feira, a Raízen foi obrigada por decisão liminar da Justiça a anular as demissões que fez na unidade Tamoio para negociar os termos das dispensas com os sindicatos locais. A companhia informou que “tomará todas as medidas judiciais cabíveis”.
Outra empresa que poderá paralisar uma de suas usinas é a Renuka do Brasil. Com um processo de recuperação judicial que enfrenta complicações depois que a Justiça suspendeu o leilão de uma de suas unidades, a companhia opera com menos de metade da capacidade total de suas duas unidades, de 10,5 milhões de toneladas, segundo uma fonte a par do assunto.
Sem os recursos que previa arrecadar com o leilão, a Renuka enfrenta dificuldades para pagar fornecedores. Neste semestre, a empresa demitiu cerca de 500 funcionários da Usina Madhu, em Promissão (SP), por causa da redução da moagem. A companhia ainda não sabe se vai operar as duas usinas em 2018/19. Mas, para rodá-las, precisará investir em manutenção de maquinário mesmo com o caixa apertado.
Para Ricardo Pinto, nenhuma das 76 usinas que estão paradas nesta safra deverá voltar a operar na próxima. A tendência, afirma, é que 12 unidades, além das três que fecharão as portas na próxima safra, voltem à atividade apenas “nos próximos anos”. Se isso de fato acontecer.