Longe de alcançar a meta de garantir que todos os jovens brasileiros estejam nas salas de aula, o Brasil deixa para trás anualmente um enorme contingente de alunos, indica estudo que será divulgado hoje. Do total de 10,3 milhões de jovens de 15 a 17 anos da população brasileira, só 8,8 milhões matriculam-se nas escolas no início de cada ano letivo; desses, 700 mil abandonam a escola antes do fim do ano; 1,2 milhão são reprovados por faltas ou mau desempenho, acumulando mais atrasos na aprendizagem.
O retrato, classificado pelos pesquisadores como “tragédia silenciosa”, está traçado na pesquisa “Políticas Públicas para Redução do Abandono e Evasão Escolar de jovens”, trabalho conjunto do Insper, Fundação Brava, Instituto Ayrton Senna e Instituto Unibanco.
Além do enorme impacto social, a falha em garantir a educação dos jovens representa perda financeira expressiva à sociedade, estimam os cálculos, liderados pelo economista-chefe do Instituto Ayrton Senna e professor do Insper, Ricardo Paes de Barros. “Se o jovem não aprendeu, o direito constitucional à educação não foi garantido”, afirma.
Nas estimativas do relatório, cada jovem brasileiro que não completar o ensino médio custará R$ 100 mil para a sociedade ao longo da vida; educá-lo no ensino médio, por outro lado, exigiria apenas R$ 15 mil em três anos. “Em qualquer cálculo que se faça para medir o quanto isso custa, é um absurdo”, define Paes de Barros.
O cálculo do impacto econômico considera, por exemplo, o quanto o jovem deixará de desenvolver sua autonomia intelectual e econômica. Contabiliza também o potencial de envolvimento com atividades de risco, como o uso de drogas, comportamento sexual de risco, número de filhos, envolvimento em atividades ilegais ou violentas e, de maneira mais ampla, seus cuidados pessoais e com a saúde. “O engajamento dos jovens com a escola leva a uma maior facilidade de inserção em atividades econômicas, maior remuneração e menor chance de pobreza”, diz.
A pesquisa afirma, com base nos dados do Censo Escolar e da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios de 2015, que há no Brasil cerca de 2,8 milhões de jovens de 15 a 17 anos que não estão em nenhuma sala de aula, porque abandonaram o curso durante o ensino fundamental – alunos de 6 a 14 anos -, ou porque concluíram o ensino médio, mas não continuaram os estudos.
Como o custo da não conclusão da educação média para cada um desses 2,8 milhões de jovens é estimado em R$ 35 mil, o custo da falta de engajamento na escola para o conjunto dos jovens brasileiros ao longo dos três anos do ensino médio é de R$ 98 bilhões. “Representa 3/2 do que hoje é alocado ao ensino médio – cerca de R$ 65 bilhões por ano”, estima o estudo.
Paes de Barros destaca que, mesmo que os alunos fora da escola tenham concluído o ensino médio, todo jovem de 17 anos deveria estar estudando: na educação básica ou no ensino superior. “A Constituição diz que ele tem que estar na escola. O Plano Nacional de Educação estabeleceu que até 2016 todos teriam que estar na escola. O valor disso para a sociedade é absurdo”, afirma.
No atual ritmo de evolução na taxa de inclusão, o Brasil levará 200 anos para atingir a meta do Plano Nacional de Educação, que é a universalização do atendimento escolar para a população de 15 a 17 anos. A porcentagem de jovens fora da escola nessa faixa está relativamente estável nos últimos 15 anos. Embora mais jovens estejam se matriculando no ensino médio, o abandono também cresce. “Mesmo no ritmo dos dois Estados que mais evoluíram (Pará e Espírito Santo), o atraso da meta seria de 32 anos”.
O relatório defende que mais barato que arcar com o custo de um jovem que abandona os estudos seria investir para trazer de volta o aluno que saiu. Atualmente, segundo o estudo, se gasta com a educação de um aluno no ensino médio cerca de R$ 4 mil por série e, portanto, cerca de R$ 12 mil para as três séries. “A sociedade deveria estar disposta a gastar outros R$ 4 mil para evitar que qualquer um desses jovens abandone a escola.”
A pesquisa procura identificar as causas do que os especialistas chamam de “desengajamento dos jovens”. Para Paes de Barros, embora a reforma do ensino médio possa ajudar a tornar o ambiente escolar mais atraente, se for bem-sucedida, há pontos críticos que não estão sendo atacados. “As crianças estão fora da escola porque saíram no ensino fundamental”, diz.
O estudo destaca que grande parte da razão pela qual o aluno desiste é porque vai acumulando atrasos no aprendizado ao longo dos anos, até sentir-se inadequado. “Há que se evitar que repetências sejam acumuladas e eu não vejo como a reforma do ensino médio possa resolver esse problema”, afirma. “O drama da nossa reforma do ensino médio é como vamos lidar sem a solução dos anos finais do ensino fundamental. Se não conversar com essa mudança, dificilmente a reforma do ensino médio será bem-sucedida”.