Marcos Burghi
O bom momento econômico, aliado à busca por melhores salários e desafios profissionais está levando um maior número de trabalhadores paulistanos a pedir demissão e mudar de emprego.
Dados do Ministério do Trabalho mostram que entre janeiro e agosto de 2010 mais de 370 mil profissionais deixaram seus empregos para se dedicar a outras companhias. O número é o maior para o período desde 2000 até o momento e cerca de 38% superior ao contabilizado no mesmo intervalo no ano passado.
Hélio Zylberstajn, coordenador do Observatório do Emprego, órgão ligado à Secretaria Estadual de Emprego e Relações do Trabalho, afirma que o volume de desligamentos oscila conforme as condições do mercado de trabalho. “Quando as pessoas percebem que o momento está bom enviam currículos. As empresas por sua vez assediam colaboradores das concorrentes”, avalia.
Segundo números do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) do Ministério do Trabalho, entre janeiro e agosto deste ano foram abertos 300,1 mil novos postos de trabalho na região metropolitana de São Paulo. O setor de serviços foi o que mais criou vagas, mais de 148 mil. O número de 2010 é 184,2% maior que as cerca de 105,6 mil vagas abertas no mesmo período em 2000.
Zylberstajn afirma que um dos indicadores do mercado aquecido é que os salários estão melhorando.
Segundo ele, o índice de pressão salarial, calculado pelo Observatório do Emprego, atingiu 0,98 na cidade de São Paulo em julho, dado mais recente ante 0,82 no mesmo mês de 2009. O índice é calculado dividindo-se a média dos salários de admissão pela média dos salários dos trabalhadores desligados. “Quanto mais perto de 1, maior a indicação de que as empresas estão pagando mais”, explica.
Beatriz Braga, professora de Recursos Humanos e Gestão de Pessoas da Fundação Getúlio Vargas de São Paulo (FGV-SP), atribui o aumento do número de pedidos de demissão a uma mudança de mentalidade no que se refere à troca de emprego. “Muita gente acredita que permanecer mais de cinco anos em uma mesma empresa deixa o currículo defasado”, afirma Beatriz.
Wilson Amorim, coordenador do Programa de Gestão de Pessoas da Fundação Instituto de Administração (Progep-Fia), diz que estudo feito pelo órgão mostrou que em 2010, cerca de 42% dos entrevistados disseram que o aspecto que mais valorizavam em uma empresa era a satisfação que poderia proporcionar ao funcionário ante 26,8% em 2009. “Isso quer dizer que as pessoas estão interessadas em maiores salários”, esclarece.
Lúcio Tezotto, gerente de atendimento geral da Catho Online, afirma que antes de tomar a decisão de se demitir, o profissional deve analisar o que pretende. “Salário, melhoria da qualidade de vida, dar novos rumos à carreira? É preciso ter clareza”, afirma.