O presidente da Volkswagen no Brasil, Thomas Schmall, traçou ontem (2) um cenário nada animador para o setor automobilístico do país nos próximos meses e em 2015. Ele acredita que o mercado brasileiro continua com potencial no longo prazo, mas considera que serão necessárias novas ferramentas para evitar a dispensa de mão de obra. Segundo Schmall, a suspensão dos contratos de trabalho (“layoff”) por cinco meses não deve ser suficiente para ajustar os estoques. “Em cinco meses não vai haver o ajuste na indústria. Na Alemanha, o ´layoff´ pode durar até dois anos”, afirmou.
Para o setor siderúrgico, que fornece produtos principalmente à indústria de veículos e de construção, a situação também “não está nada fácil”, na avaliação do presidente da divisão de Aços Longos da ArcelorMittal na America Central e do Sul, Jefferson de Paula. Ele disse ao Valor PRO, serviço de informações em tempo real do Valor, que o primeiro trimestre ainda foi bom, mas depois o mercado desandou. Os fabricantes de aços longos já trabalham com um cenário de 3% de retração nas vendas deste ano.
No setor de mineração, além da queda na demanda, a preocupação é com a redução no preço do minério de ferro, que ameaça ficar abaixo de US$ 80 por tonelada. “Minha preocupação é que o lado negativo [dos preços do minério de ferro] vai ser maior e mais demorado do que se antecipa”, disse ao “The Wall Street Journal” Mark Cutifani, diretor-executivo da Anglo American PLC, uma das maiores mineradoras do mundo.
Esse cenário visto por empresas multinacionais não é o mesmo traçado pelo ministro da Fazenda, Guido Mantega. Ontem, o IBGE divulgou dados mostrando que a produção industrial teve um aumento de 0,7% de junho para julho. O resultado interrompeu uma sequência de cinco meses de queda, quando a indústria acumulou retração de 3,5%. Para Mantega, o avanço é prova de que a economia brasileira não está em recessão, porque indica uma recuperação da atividade no segundo trimestre. No entanto, economistas ouvidos pelo Valor observam que essa pequena reação será insuficiente para impedir que a indústria encerre 2014 em queda. Para eles, a conjuntura setorial continua negativa: os estoques se mantêm altos e a desaceleração, cada vez mais, vai além do setor automotivo. Na comparação com julho do ano passado, menos de 20% dos setores conseguiram aumentar sua produção.