Montadoras vão parar por mais três meses

Por Eduardo Laguna | De São Paulo

As paradas de produção que vêm sendo realizadas na indústria de veículos desde o início do ano vão se estender, no mínimo, até julho, conforme indicam as programações das empresas. Neste mês, as grandes montadoras continuam paralisando linhas para ajustar estoques e adequar a produção a um mercado menor.

Depois disso, chega a Copa do Mundo e o fluxo de consumidores nas concessionárias deve cair ainda mais, de forma que até mesmo as marcas menos afetadas pela crise, como Hyundai e Honda, vão aproveitar o evento para dar férias coletivas ou liberar operários durante jogos da seleção brasileira.

A Ford programou para o mês que vem uma parada de 16 dias na fábrica de Camaçari, na Bahia, onde são montados os modelos EcoSport e Fiesta Rocam, além da nova geração do Ka, que está em fase de pré-produção para lançamento entre julho e agosto.

Férias coletivas entre maio e julho também estão previstas em montadoras de caminhões como Scania, no ABC paulista, Volvo, em Curitiba (PR), e International, instalada em Canoas, no Rio Grande do Sul. Operários da Iveco, em Sete Lagoas (MG), já estão em férias desde 22 de abril.

Além disso, as empresas estão tomando medidas para administrar o excesso de mão de obra. Ontem, a Mercedes-Benz fechou acordo com o sindicato dos metalúrgicos do ABC para suspender, a partir de segunda-feira, um dos dois turnos de produção na fábrica de caminhões em São Bernardo do Campo (SP). Por tempo indeterminado, 700 trabalhadores ficarão afastados da fábrica por licença remunerada.

Com a queda tanto nas vendas domésticas como nas exportações para a Argentina, a Mercedes já vinha operando em esquema de semana curta de trabalho – com um dia a menos de produção – no ABC e deu férias coletivas na fábrica de caminhões extrapesados de Juiz de Fora, em Minas Gerais.

Números da Fenabrave, a entidade das concessionárias de carros, mostram que a queda nas vendas de veículos, que fechou o primeiro trimestre em 2,1%, subiu para 5% no acumulado de janeiro a abril. Além de um mercado que diminui de tamanho com a retirada de incentivos fiscais do governo, as montadoras enfrentam restrições na Argentina que vêm derrubando suas exportações e agora lutam para normalizar estoques que chegaram, em março, a níveis mais críticos desde a crise financeira de 2008.

Ontem e na última sexta-feira, na emenda do feriado do Dia do Trabalho, tanto a General Motors (GM) como a Renault pararam a produção nas fábricas de São Caetano do Sul (SP) e no Paraná, respectivamente. No caso da GM, os operários tinham acabado de voltar – na segunda-feira da semana passada – de um período de duas semanas de férias coletivas.

Na Honda, que monta seus automóveis em Sumaré (SP), e na fábrica da Hyundai em Piracicaba (SP), as férias coletivas estão marcadas para a primeira quinzena de julho. Serão dez dias na Honda e doze na Hyundai. A montadora coreana, além da parada prevista durante as férias, fechou acordo com o sindicato dos metalúrgicos para liberar funcionários e interromper a produção nos dias em que a seleção brasileira entrar em campo.

A Ford, por sua vez, informa que a paralisação programada para o mês que vem em Camaçari tem como objetivo ajustar a produção ao menor consumo de automóveis no país, evitando dessa forma o avanço dos estoques. A partir de 9 de junho, os operários saem em férias de duas semanas e só voltam no dia 25, após o feriado do Dia de São João. No local, a Ford tem capacidade de produzir mais de mil carros por dia, empregando cerca de 3,5 mil pessoas. Os fornecedores instalados no complexo industrial da montadora no Nordeste vão acompanhar a parada.

Segundo, Rogelio Golfarb, vice-presidente de assuntos corporativos da Ford, o mercado claramente caminha para fechar o ano abaixo dos volumes de 2013. “Os últimos números confirmam uma clara tendência de queda, que, na verdade, já tinha começado no ano passado”, comenta o executivo.

No momento, as montadoras ainda aguardam do governo medidas de estímulo ao crédito de veículos, assim como um entendimento entre Brasil e Argentina para destravar o comércio bilateral. Algumas iniciativas, porém, já estão sendo tomadas para apoiar a retomada do mercado de veículos pesados. Após simplificar a aprovação do crédito, o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) vai melhorar as condições dos financiamentos para caminhões e ônibus. A cobertura do Finame, a linha operada pelo banco para financiar bens de capital, vai subir de 90% para 100% do valor desses veículos nas transações envolvendo micro e pequenas empresas. Já nas operações de grandes empresas, o Finame passa a cobrir 90% do bem. Antes, essa cobertura estava em 80%.