Um trem para as estrelas é uma metáfora da ilusão de que a vida poderia ser melhor. Do álbum Ideologia, um dos mais conceituais e politizados de Cazuza, a música denuncia a dureza do dia a dia do trabalhador no Brasil da década de 1980, pós-ditadura, com alto desemprego e inflação. Uma situação que parece nos assombrar novamente, com a perda de direitos, rebaixamento dos salários e o fantasma do desemprego.
“Nas filas dos pontos de ônibus”, o povo, “procurando aonde ir”, espera por um “trem pras estrelas”, mas embarca em um novo “navio negreiro”, dando o sangue em troca da própria subsistência (ou, “dos seus salários de fome”).
O ponto de vista de Cazuza, como um observador externo, assim como o Cristo Redentor de braços abertos que não protege ninguém, é o da hipocrisia social. Ele revela, a partir dos seus privilégios, as contradições impostas para o povo no mundo do trabalho e do dinheiro.
Um Trem Para As Estrelas
(Composição: Cazuza e Gilberto Gil/1987)
Intérprete: Cazuza
São 7 horas da manhã
Vejo Cristo da janela
O sol já apagou sua luz
E o povo lá embaixo espera
Nas filas dos pontos de ônibus
Procurando aonde ir
São todos seus cicerones
Correm pra não desistir
Dos seus salários de fome
É a esperança que eles tem
Neste filme como extras
Todos querem se dar bem
Num trem pras estrelas
Depois dos navios negreiros
Outras correntezas
Estranho o teu Cristo, Rio
Que olha tão longe, além
Com os braços sempre abertos
Mas sem proteger ninguém
Eu vou forrar as paredes
Do meu quarto de miséria
Com manchetes de jornal
Pra ver que não é nada sério
Eu vou dar o meu desprezo
Pra você que me ensinou
Que a tristeza é uma maneira
Da gente se salvar depois
Num trem pras estrelas
Depois dos navios negreiros
Outras correntezas