Zelão, de 1960, marcou a dissidência de Sérgio Ricardo com a Bossa Nova. Foi o que disse ele próprio em uma entrevista para a Folha de SP, em 8/09/2002.
Embrião da canção de protesto dos anos 1960, segue a matéria, Zelão foi “um dos detonadores da grande cisão da bossa nova -“alienados” de um lado, “participantes” do outro”.
Era o primeiro LP de Sérgio Ricardo. Desde o início o artista deixou clara sua posição. Chegou para causar, rompendo o ar de vida boa que a bossa ostentava. Opinião forte foi sua marca. Tanto que sua imagem quebrando o violão no palco é a lembrança icônica, que o país guarda carinhosamente.
Com uma letra que tende mais para Saudosa Maloca (1955) do que para Chega de Saudade (1958), Zelão conta a história de um deslizamento de terra que soterrou barracos em uma favela. Uma história presenciada e transformada em música e em denúncia por Sérgio Ricardo.
Zelão
(Composição: Sérgio Ricardo/1960)
Intérprete: Sérgio Ricardo
Todo morro entendeu
Quando o Zelão chorou
Ninguém riu nem brincou
E era carnaval
No fogo de um barracão
Só se cozinha ilusão
Restos que a feira deixou
E ainda é pouco só
Mas assim mesmo Zelão
Dizia sempre a sorrir
Que um pobre ajuda outro pobre
Até melhorar
Choveu, choveu
A chuva jogou seu barraco no chão
Nem foi possível salvar violão
Que acompanhou morro abaixo a canção
Das coisas todas que a chuva levou
Pedaços tristes do seu coração
Todo morro entendeu
Quando o Zelão chorou
Ninguém riu nem brincou
E era carnaval
Fonte: Centro de Memória Sindical