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Nanotecnologia cria novas possibilidades

Por Jacilio Saraiva

A nanotecnologia pode se transformar em uma grande aliada da indústria química na criação de novos materiais. Por meio da manipulação de moléculas, as empresas podem entregar produtos com propriedades físicas superiores, como tintas para a impressão de cheques bancários e resinas plásticas. Mas, para isso, o setor privado, a academia e o governo precisam de mais sinergia e investimentos para acelerar pesquisas na área. No Brasil, há avanços no desenvolvimento de itens baseados na nanotecnologia entre grandes fabricantes, como a Braskem, e em companhias de menor porte criadas em incubadoras de negócios, como a mineira Nanum, que vende 100% da produção no exterior, e a paulista Chem4u, que pretende dobrar o volume de contratos em 2015, por conta da produção de bactericidas.

De acordo com pesquisa da Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI), ligada ao Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC), o mercado mundial de produtos nanotecnológicos deve movimentar US$ 2,9 trilhões em 2015 ou mais de 15% do total de itens industrializados no planeta. Hoje, do total desse mercado, a maior parcela ou 53% têm origem no setor químico, seguido pelo segmento de semicondutores (34%).

Este ano, a Braskem firmou com a Finep um acordo para o estudo de embalagens plásticas a partir da utilização da nanotecnologia. Segundo Patrick Teyssonneyre, diretor do centro de tecnologia e inovação da empresa, o trabalho será realizado na unidade do polo petroquímico de Triunfo (RS) e foca no desenvolvimento de resinas plásticas. “Os produtos serão utilizados na fabricação de embalagens rígidas e flexíveis de polietileno e polipropileno [tipos de plásticos]”, diz. O projeto deve ser concluído até o final de 2016.

Desde quando foi criada, em 2002, a Braskem, com 36 plantas no Brasil, Estados Unidos e Alemanha, adota a nanotecnologia em estratégias de inovação. Em junho, inaugurou um laboratório de biotecnologia em Campinas (SP) para pesquisas com matérias-primas renováveis. “Em 2005, fomos a primeira petroquímica brasileira a depositar uma patente envolvendo a nanotecnologia”, diz. O registro refere-se ao desenvolvimento de um processo de produção de polipropileno aditivado com nanocompósitos – partículas que proporcionam aos produtos propriedades físicas superiores, como rigidez, brilho e resistência a impactos.

Segundo o especialista, além de embalagens, a Braskem mira a possibilidade de aplicar a nanotecnologia em nichos como cosméticos, farmacêutico e alimentos, além de não tecidos, eletrodomésticos e no setor automotivo. “Mas, apesar das pesquisas na área, ainda não temos resultados em escala comercial.” Dona de um faturamento de R$ 47,7 bilhões registrado em 2013, a companhia investiu, no ano passado, R$ 200 milhões em pesquisa e desenvolvimento (P&D), o que incluiu projetos de nanotecnologia. O valor representa cerca de 0,5% do faturamento total.

Companhias menores também estão se dedicando à nanociência. A Nanum, que produz partículas cerâmicas em alta concentração, tem como principal produto uma tinta magnética utilizada na impressão de cheques bancários. “A tecnologia permite a substituição das impressoras a laser por modelos a jato de tinta, mais baratos”, explica Tarik Della Santina Mohallem, sócio e diretor de P&D da empresa, fornecedora da HP nos Estados Unidos. No ano passado, 100% do faturamento de R$ 4 milhões da companhia vieram de contratos de exportação.

Outro produto do portfólio é a dispersão de óxido de cério para a “aditivação” de combustíveis. O óxido de cério é usado na cerâmica e para polir vidros e pedras. “O aditivo, em testes preliminares, garante a motores e turbinas um ganho de rendimento de 15% a 20%”, afirma.

A empresa sediada em Lagoa Santa (MG) investe em nanotecnologia desde a sua criação, em 2003. Criada por professores e alunos da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), começou como uma pequena prestadora de serviços. Em 2008, entrou na incubadora Habitat, gerenciada pela Fundação Biominas. Hoje, tem como um dos seus principais acionistas a Clamper, fabricante de equipamentos de proteção contra tensões elétricas, que adquiriu 51% dos ativos da companhia.

A paulista Chemu, que desenvolve e vende aditivos nanoestruturados de uso industrial, espera dobrar o faturamento no próximo ano por conta da produção de bactericidas e filmes plásticos. Sem mencionar valores, a sócia-diretora Leila Jansen afirma que tem clientes potenciais entre fabricantes de embalagens plásticas, além de fornecedores de materiais para a área médica, de utensílios e decoração.

“As nano partículas podem ser usadas na confecção de saneantes [desinfetantes, detergentes e inseticidas] ou incorporadas em polímeros e filmes plásticos, tornando-os bactericidas”, explica. A empresa também tem produzido vernizes que, ao serem aplicados sobre superfícies, as deixam isentas de bactérias por longos períodos.

A empresa foi criada em 2007 na incubadora Centro de Inovação, Empreendedorismo e Tecnologia (Cietec), na Universidade de São Paulo (USP). Atualmente, opera em Mauá (SP). Para o desenvolvimento de pesquisas, obteve apoio de entidades como o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) e Finep. “Mais de 60% da verba anual investida na área vêm de linhas de financiamento”, diz Leila. Também mantém parcerias com laboratórios e departamentos da USP, como a Escola Politécnica e o Instituto de Ciências Biomédicas. “Alunos pós-graduados participam dos nossos projetos como bolsistas.”