A educação ainda trava o avanço do país no ranking dos países com maior nível de desenvolvimento
Nas três dimensões que compõem o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), a educação está estagnada, enquanto avançam os indicadores de renda e saúde.
A expectativa de anos de estudo (que significa quanto tempo se espera que uma criança ficará na escola) se manteve em 15,2 anos, e a média de anos de estudo, em 7,2 anos. Já a Renda Nacional Bruta (RNB) per capita do país subiu de US$ 14.081 em 2012 para US$ 14.275 em 2013, enquanto a expectativa de vida aumentou de 73,7 anos para 73,9 anos no mesmo período.
— O que está puxando o Brasil para baixo em desenvolvimento humano é a educação. Avançamos em expectativa de vida e a renda é condizente com os demais países do grupo de alto desenvolvimento humano, mas a média de anos de estudo é a terceira pior do grupo e se aproxima dos grupos inferiores — explica a professora da UFPE Tatiane de Menezes.
No grupo de alto desenvolvimento humano, apenas Omã (6,8 anos) e Colômbia (7,1 anos) têm média de anos de estudo inferior à brasileira. Vizinhos da América Latina, como Argentina (9,8 anos), Chile (9,8 anos) e Cuba (10,2 anos), exibem números bem maiores.
E essa estabilidade nos indicadores de educação ocorreu mesmo com uma mudança de metodologia que beneficiou o Brasil. Os anos de estudo e os anos esperados de estudo passaram a ter o mesmo peso no IDH. Anteriormente, os anos de estudo tinham mais importância na conta, o que dava uma vantagem comparativa aos países desenvolvidos no ranking e prejudicava os emergentes. Mudanças de metodologia no cálculo do indicador ocorrem praticamente todos os anos.
Segundo a coordenadora do Atlas do Desenvolvimento Humano no Brasil, Andréa Bolzon, ao dar mais importância aos anos de estudo, o IDH captava melhor os resultados de nações em que o problema da educação já está equacionado, como Noruega e Suíça. Mas não captava os esforços dos países em desenvolvimento em melhorar o ensino, com a expectativa de que as pessoas fiquem mais tempo na escola.
— Foi uma demanda de vários países em desenvolvimento que o IDH mudasse a forma de avaliar a educação — explica a coordenadora.
Brasileiros que ficaram à margem dos avanços educacionais do país sabem o custo na vida e tentam recuperar o tempo perdido. Para a cozinheira industrial Célia Anísia dos Santos, de 51 anos, uma pessoa sem estudo “é como se vivesse na escuridão, não tem acesso à tecnologia, é muito triste”. Ela começou um curso de alfabetização para adultos em fevereiro.
— Nasci e fui criada na roça, sem incentivo para estudar porque os pais criavam a gente para trabalhar na lavoura. Mas agora que minhas filhas já estudaram, tenho minha oportunidade.
Bem mais jovem, Edson Vale, de 17 anos, também corre atrás do tempo perdido:
— Fiquei três anos parado e estou lutando para completar o ensino fundamental. Também trabalho por fora, sem carteira assinada.