Nos últimos 10 anos, 35 milhões de pessoas entraram na classe média

Dado é de estudo da Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência.
Estima-se que o Brasil tenha 104 milhões na classe, 53% da população.

Iara Lemos e Alexandro Martello

Na última década, 35 milhões de pessoas passaram a integrar a classe média no Brasil, segundo estudo da Secretaria de Assuntos Estratégicos (SAE) da Presidência da República, divulgado nesta quinta-feira (20). No total, estima-se que o Brasil tenha 104 milhões de pessoas na classe média, o que representa 53% da população brasileira – 20% estão na classe alta e 28% na baixa. Em 2002, 38% da população estava na classe média.

A Secretaria de Assuntos Estratégicos considera classe média famílias “com baixa probabilidade de passarem a ser pobres no futuro próximo”, com renda per capita entre R$ 291 e R$ 1.019 por mês.

O ministro da Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência, Moreira Franco, disse que a pesquisa é uma forma do governo e da sociedade conhecerem a classe média.

“Temos 35 milhões de pessoas entrando para a classe média. Os senhores que aqui estão sabem do tamanho desta empreitada, desta mobilização, deste esforço de garantia de direitos ao cidadão. A pobreza no país neste período caiu de 27% para menos de 15% em 2012. A extrema pobreza, que é um dos desafios do governo, passou de 10% da população para menos de 5% da população. Em torno de 18 milhões de empregos foram criados neste período”, afirmou.

Moreira Franco afirmou que um dos objetivos do governo é combater a desigualdade. “Nós entendemos que a diferença não é ruim. As pessoas são diferentes, as pessoas querem praticar a diferença. O que temos de combater é a desigualdade”.

De acordo com o estudo “Vozes da Classe Média”, a classe acessa mais os serviços particulares, como escolas e planos de saúde. Na classe baixa, 5% possuem convênios médicos – na classe média, esse percentual chega a 24%.

s dados também mostram que a renda de 40% da classe média vem do trabalho, sendo que 50% trabalham mais de 40 horas semanais.

Quando o assunto é economizar, a classe média poupa mais que a classe baixa (32% contra 24%) e menos que a classe alta, que poupa, em média, 51%.

Com relação aos estudos, a SAE aponta que 14% dos jovens da classe média estão em escolas particulares. Já nas universidades eles representam apenas 7% dos alunos.

Renda X classe
Segundo os critérios da secretaria, quem vive com mais de R$ 1.019 por mês pertence à classe alta. A comissão responsável pelos parâmetros reconhece que o valor é baixo, mas afirma que a renda familiar por pessoa de mais da metade da população é inferior a R$ 440 por mês.

Para ser incluída no grupo dos 5% mais ricos, a pessoa precisa ganhar na faixa de R$ 2.365 mensais. Para compor a classe do 1% mais rico, a renda mínima é de R$11.000 por mês. São consideradas pobres famílias com renda per capita inferior a R$ 291 por mês.

O estudo usou dados da Pesquisa Nacional por Amostras de Domicílios (PNAD) e da Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF), ambas produzidas pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Além dessas, o projeto usa pesquisas realizadas pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) e pelo Instituto Data Popular.

´Transformação profunda´
Para Moreira Franco, a sociedade brasileira está vivendo uma “transformação profunda” com a ascensão de milhões de pessoas à classe média. Esta transformação, segundo ele, está alterando a vida das pessoas não somente no plano econômico, mas também em termos de valores e atitudes.

“É uma mudança que nós temos que começar a nos acostumar. Determinadas ações do governo já estão sendo obrigadas a olhar este segmento de uma outra maneira. Ele deixa de ser objeto de política social para ser objeto de política econômica. Não é mais assistência social que vai garantir a capacidade dessa parcela da população de crescer, de se desenvolver. Temos de ter política econômica que não veja só o BNDES. Temos que ter políticas que vejam a educação financeira, o crédito, a infraestrutura, que cuide da educação, da qualificação e do emprego. São valores que estamos sendo obrigados a incorporar no nosso universo de ação pública”, declarou ele.