O perigo do dólar barato

Cotação da moeda americana chega a R$ 1,5449. Sindicatos e empresários estão preocupados com o risco de desemprego e desindustrialização. Enquanto isso, o comércio de importados cresce no país

Juca Guimarães

A cotação do dólar a R$ 1,5449 pode à primeira vista parecer uma ótima notícia, principalmente para que tem saudades do início do Plano Real, quando a moeda brasileira estava equiparada ao dólar. Porém, a desvalorização constante da moeda americana diante do real traz efeitos colaterais que prejudicam o comércio, a indústria e o nível de emprego no país.
“Nessa situação de dólar em queda, o Brasil não consegue exportar porque fica com uma moeda muito valorizada em relação a outros mercados e acaba perdendo competitividade. O produto nacional fica caro lá fora”, disse Fábio Gallo, professor de finanças da FGV (Fundação Getulio Vargas).
Nos últimos 12 meses, o dólar sofreu uma desvalorização de 12,5% frente ao real. De janeiro a junho, a queda foi de 5,24%, segundo o Banco Central.
A cotação de R$ 1,5449 é a menor desde janeiro de 1999, quando a moeda americana valia o equivalente a R$ 1,538.
“A tendência, sem dúvida nenhuma, é de continuar em queda. A oferta de dólares no país está cada vez maior e isso faz com que a cotação caia. Hoje, o Brasil é um país emergente, com economia estável e uma taxa de juros muito alta. Esse conjunto de fatores atrai um número cada vez maior de investidores estrangeiros”, disse o professor Gallo.
O reflexo negativo do dólar baixo aparece nos índices de mão de obra das indústrias. Boa parte dos setores teve crescimento tímido, abaixo de 3%, no nível de emprego.
Outros tiveram redução nos postos de trabalho. É o caso do setor de madeira apresentou queda de 6,2%. As indústrias têxtil e de vestuário tiveram redução no faturamento de 12,9% e 6,7%, respectivamente, na comparação de maio deste ano com o mesmo período do ano passado.

Balança
“O comportamento da moeda americana favorece alguns setores da economia brasileira. O principal deles é o comércio de importados. No entanto, é péssimo para a balança comercial”, disse o professor de economia Samy Dana, da FGV.
Segundo Dana, o governo deve tomar medidas urgentes para conter a queda do dólar.
Para o gerente da mesa de câmbio Felipe Pelegrini, da Confidence Câmbio, a queda do dólar deve ser contida com medidas pontuais.
“Além do aumento do IOF (Imposto sobre Operações Financeiras), o governo deve intensificar os leilões de dólar como tem feito nos últimos dias. Não é nada interessante para o Brasil que o dólar fique tão desvalorizado”, disse.

Cresce as vendas de carros importados
Segundo a Abeiva, associações das empresas importadoras de automóveis, as vendas cresceram 62,3% de  2010 para 2011.  Em março, último dado disponível, foram emplacados 13.989 carros importados no Brasil.

Pacotes de viagens se popularizaram
De acordo com os dados do Ibope Nielsen Online, o acesso a sites de viagens tiveram crescimento de 14,1% em junho deste ano comparado ao mesmo mês de 2010.  Uma das razões é o aumento da renda.

Indústrias exigem medidas do governo
A CNI (Confederação Nacional da Indústria) exige que o governo tome medidas para melhorar a competitividade  brasileira. O  governo promete  anunciar em agosto um plano para o setor industrial.

Super Real desindustrializa o Brasil
A UGT (União Geral dos Trabalhadores) chama a atenção do governo brasileiro a agir com rapidez para defender a indústria nacional e manter nosso mercado de trabalho. Nosso parque industrial vem sendo atacado pela forte valorização do real frente à moeda americana, que torna nossas exportações mais caras em relação à concorrência internacional.
O dólar atingiu  R$ 1,5449, o menor patamar desde janeiro de 1999. Coincidindo com declarações da presidente Dilma Rousseff, que disse que seu governo descarta medidas mais ousadas para conter a valorização do real.
Se isso realmente acontecer, nosso parque industrial corre sério risco e podemos entrar num processo de desindustrialização, com o fechamento de empresas e a perda de milhares de empregos com consequências desastrosas para a sociedade brasileira, isso sem contar que, aí sim, a inflação vai entrar nas nossas vidas a galope.
Nossa fragilidade industrial já é uma realidade. Ela foi detectada pelo Índice de Gerentes de Compras (PMI, na sigla em inglês), que avalia a competitividade industrial de 13 nações emergentes. O índice PMI do Brasil caiu dos 50,8 pontos em maio para 49 pontos em junho. O mais baixo indicador desde julho de 2009. Fomos o único dos 13 países a apresentar desempenho negativo.
Este é um resultado negativo para o parque industrial, negativo para os interesses do país, da sociedade e dos trabalhadores.
Outro ataque vem do aumento da taxa básica de juros, a Selic, para 12,5% ao ano, que atrai dólar do mundo inteiro, pressionando ainda mais o real, hoje uma das mais valorizadas moedas do mundo, num país onde se paga os maiores juros do mundo para o capital especulativo. Não podemos pagar para ver. É necessário medidas urgentes do governo federal  contra a desindustrialização  em defesa do emprego.