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O trem atrasou, canta Nara Leão

A rigidez das relações de trabalho, sobretudo com relação ao horário que o funcionário deve cumprir. A apropriação do ser humano pelo mercado. É disso que se trata.

Um atraso de meia, do ponto de vista da empresa, é uma falha levada às últimas consequências, resultando na demissão do operário, mesmo que ele tenha o memorando da central, provando que o atraso foi do trem.

Uma história tão simples, mas com tantos significados.

Primeiro: o sentimento de propriedade que o patrão tem pelo trabalhador durante aquele horário determinado.

Segundo: a injustiça fundamental sobre a qual se ergue esta relação. O trabalhador precisa do emprego e segue todas as regras (sempre fui obediente), mas, por culpa de um atraso que não é dele, ele sofre a mais severa consequência.

Terceiro: tudo está interligado em uma cidade, o atraso de meia hora do trem, resulta no atraso dos trabalhadores, possivelmente em compensações de jornada e até em demissões, como a música relata.

São as contradições do capitalismo que despontavam já na década de 1940, quando a letra foi escrita, delimitando as diferenças entre patrão e empregado e o abismo entre ricos e pobres. Contradições que se perpetuam e que se aprofundam até hoje.

Contradições que se manifestam na terrível tragédia de Taguaí (SP), que matou mais de quarenta trabalhadores que seguiam para a empresa, a bordo de um transporte inapropriado, clandestino, nas curvas da Rodovia Alfredo de Oliveira Carvalho no dia 25 de novembro de 2020.

Novamente a questão do transporte e a questão da perda. Muito além da perda do emprego, neste capitalismo que produz riquezas, mas desdenha de perdas prematuras de vidas, a morte de tantos trabalhadores. Contradições

O trem atrasou
(Composição: Arthur Vilarinho & Estanislau Silva Pinto & Paquito/1941)
Intérprete: Nara Leão

Patrão, o trem atrasou
Por isso estou chegando agora
Trago aqui um memorando da Central
O trem atrasou, meia hora
O senhor não tem razão
Pra me mandar embora !

O senhor tem paciência
É preciso compreender
Sempre fui obediente
Reconheço o meu dever
Um atraso é muito justo
Quando há explicação
Sou um chefe de família
Preciso ganhar meu pão
Não me diga que não!

Fonte: Centro de Memória Sindical