Obras e consumo serão as bases de 2013

Por Claudia Safatle

O crescimento econômico de 2013 terá que partir da expansão dos investimentos públicos, do crédito e do consumo, na avaliação do governo. A presidente Dilma Rousseff não guarda mais ilusões de que o setor privado vai retomar seus investimentos enquanto forem grandes as incertezas no mundo. Não há mais o que fazer a tempo de deslanchar a atividade econômica neste ano. “Para nós, o ano de 2012 já acabou. Agora, temos que criar as condições para o crescimento do próximo ano”, disse uma fonte próxima à presidente.

De fato, a performance para 2012 está dada. O crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) será baixo. Não há como descartar a hipótese de ele ficar ao redor de 1,5%, abaixo, portanto, das mais recentes estimativas oficiais (2,5%). A aguardada reação da atividade no segundo trimestre, segundo analistas do setor privado, não ocorreu. As vendas de automóveis, por exemplo, cresceram após a redução do IPI, mas não o suficiente para aumentar a produção. A esperança é que o terceiro trimestre seja melhor e que, dados os estímulos monetários e fiscais já concedidos, o país chegue ao último trimestre do ano com crescimento anualizado de 4%, como prevê o Banco Central.

Para que o país possa crescer em 2013 a presidente pretende se concentrar na viabilização do investimento público e, nesse sentido, vai ampliar e acelerar as concessões nas áreas de infraestrutura aeroportuária, rodovias e portos. O crescimento do crédito e do consumo é limitado e depende de uma melhora da inadimplência.

Cálculos de analistas privados indicam que a taxa de inadimplência da pessoa física, hoje de 8%, deve cair 1 ponto percentual nos próximos cinco meses. É pouco, mas ajuda.

Dar como encerrado, na economia, este segundo ano de governo e preparar melhor o próximo exercício foi a decisão amadurecida pela presidente depois da reunião do G-20 em Los Cabos, no México, no mês passado. Após a conversa com a chanceler da Alemanha, Angela Merkel, Dilma voltou ao país mais pessimista e com sinais claros de que a Europa continuará em recessão pelos próximos dois a três anos, com efeitos prejudiciais sobre as economias emergentes. Portanto, a fonte de dinamismo econômico dada pelas atividades de comércio exterior também estará seca. Resta refazer os prognósticos internos e se dedicar à execução dos investimentos públicos, enfatizam assessores.

Uma das revisões mais bruscas do último relatório de inflação do BC se refere à expectativa de crescimento dos investimentos neste ano, que era de 5% e caiu para 1%, nível ainda acima do que prevê o mercado, que é menos da metade disso. A pretensão do governo, no início deste ano, de elevar o investimento público, está mais uma vez se frustrando.

Como que “encantado”, o investimento público não sai do lugar, segundo têm mostrado seguidas matérias publicadas pelo Valor. Há uma endemia de irregularidades e práticas de corrupção flagradas nas obras públicas pelos órgãos de controle (TCU, AGU), que as paralisam. Sanar as irregularidades e dar execução a essas obras desafia as mais legítimas intenções de Dilma. A agenda da presidente, nesta semana, foi dedicada a reuniões com ministros para tratar desse tema e ver como desobstruir esses projetos.

A recessão na Europa será mais prolongada do que imaginava o governo brasileiro. Seus efeitos devem contaminar todo o mandato da presidente Dilma.

A desvalorização do real – moeda que mais se depreciou nos últimos meses – não trará resultados relevantes para as exportações, já que os principais mercados de produtos brasileiros estão em recessão ou em desaquecimento. Mas pode dar uma contribuição importante para a substituição de importações.

Embora o governo demonstre contentamento com o dólar cotado a R$ 2,00, esse é o patamar em que estava a taxa de câmbio no ano 2000 e nesses 12 anos a inflação média no país foi da ordem de 6%. A taxa de câmbio real, considerando uma cotação da ordem de R$ 2,10 agora, está no mesmo patamar de 1994, após a edição do Plano Real (ver gráfico). Não é essa taxa de câmbio, portanto, que vai reverter a recessão na indústria.

Na avaliação de assessores da presidente, porém, a tendência do dólar é continuar se valorizando e o fluxo de capitais para os países emergentes será mais ralo. O real, portanto, pode se desvalorizar mais no curto prazo. Mas há uma vasta gama de medidas de restrição (IOF sobre empréstimos externos) que pode e deverá ser desmontada pelo governo mais à frente.

Chama a atenção, em todo esse processo, a resistência da inflação. Após a quebra do Lehman Brothers, em setembro de 2008, a economia brasileira saiu de um crescimento de 5,17% para uma retração de 0,33% em 2009, mas a inflação apenas cedeu de 5,9% para 4,31%. Desta vez a projeção de PIB despencou, mas o IPCA custa a convergir para o centro da meta de 4,5%. Em ambos os períodos os cortes na taxa Selic foram substanciais. Em 2008/09, de 500 pontos base, saindo de 13,75% para 8,75%. Desta vez o corte foi mais lento, de 400 pontos até agora. A Selic saiu de 12,5% para 8,5% e as expectativas, no governo, são de que encerre o ano entre 7% e 7,5%.