A Organização Internacional do Trabalho (OIT) projeta contração de 6,2% nos salários no Brasil em termos reais (descontada a inflação) neste ano, a maior taxa entre as grandes economias, o que é visto como mais um limitador no caminho da recuperação do país.
O Relatório Mundial sobre os Salários 2016/2017, divulgado ontem, mostra o Brasil em 2015 com a segunda maior baixa de pagamentos aos empregados em termos reais, de 3,7%, só ficando atrás da Rússia com -9,5%. Com isso, reduziu-se, ou mesmo inverteu-se, a tendência que vinha da crise financeira global de 2008/09, quando a expansão salarial mundial foi sustentada pelos aumentos nos emergentes.
Para 2016, a estimativa preliminar da entidade aponta piora e o país se torna campeão de contração salarial, que deve quase dobrar em relação ao ano passado, enquanto na Rússia há uma ligeira recuperação (0,6%). Em parceiros como China e Índia, os empregados vão ganhar mais de 5% em termos reais. A OIT diz que faz suas estimativas com base em dados nacionais e do Fundo Monetário Internacional (FMI).
A contração salarial acumulada no Brasil é de 10% em dois anos (2015 e 2016), no rastro da pior recessão dos últimos tempos no país, e “para 2017 as coisas tampouco são encorajadoras”, na avaliação da diretora-geral adjunta da OIT, Deborah Greenfield. Num contexto econômico fragilizado, a depressão salarial no Brasil afetará mais o consumo das famílias e a demanda doméstica e “o que foi alcançado antes (em termos sociais) pode ser facilmente erodido”.
Recentemente, a Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) projetou que o desemprego deve continuar subindo em 2017 no Brasil e que o ritmo da recuperação da economia brasileira será limitado também pelo alto endividamento das empresas e a significativa capacidade ociosa em certos setores.
Globalmente, o crescimento dos pagamentos aos empregados caiu ao mais baixo nível em quatro anos, para 1,7% ante 2,5% no ano anterior. Aumentos salariais em algumas economias desenvolvidas, como Estados Unidos (2,2%) e Alemanha (2,8%), não foram suficientes para compensar o forte declínio nos emergentes, encabeçados pelo Brasil e pela Rússia.
Nos emergentes, a expansão do salário real diminuiu de 6,6% em 2012 para 2,5% no ano passado. Já nos países desenvolvidos, houve progressão de 0,2% para 1,7% nesse período. Na América Latina, houve queda de 1,3%, essencialmente por causa da contração no Brasil.
“Não vejo os salários crescendo (globalmente) em paralelo ao aumento da produtividade, e a desigualdade aumenta”, diz Deborah. Sem surpresa, o Brasil aparece no relatório da OIT com destaque no agravamento de desigualdades na distribuição dos salários. A parte dos 10% com pagamentos mais elevados embolsa 35% da soma total paga ao conjunto dos empregados no país, vindo em seguida a África do Sul (49,2%).
Além disso, a desigualdade nos pagamentos também é forte entre empresas, mais do que dentro de empresas. No Brasil, ela foi ligeiramente reduzida pelo reforço do salário mínimo desde 1995 e aceleração dos aumentos desde 2005 no país. A diferença salarial é mais marcantes para as mulheres, globalmente. No Brasil, elas recebem 22% a menos que os homens no mesmo cargo, em média.
A OIT destaca que, em todo caso, desde 2006 os salários quase dobraram na média na China, cresceram 60% na Índia e somente no México houve baixa real ao longo da década.
A entidade faz uma série de recomendações aos governos para que a desigualdade salarial se mantenha nos limites socialmente aceitáveis. Basta ver que, em alguns países, o grupo de 1% com salários mais elevados recebeu € 221 por hora, enquanto as empresas em que trabalham pagam € 45 por hora na média.
Uma das sugestões é o uso de política fiscal para impor taxa mais progressiva afim de reduzir a remuneração dos executivos. Na Suíça, foi aprovada uma lei para limitar a 12 vezes a diferença entre o maior e o menor salário numa empresa.