Resultado frustra governo, que esperava mais de 1 milhão, mas foi surpreendido pelas demissões de fim de ano
Edna Simão
BRASÍLIA
Demissões acima da expectativa no fim do ano frustraram a expectativa do governo de terminar 2009 com a criação de 1 milhão de empregos com carteira assinada. Em vez disso, foram abertos 995.110 postos, o pior desempenho desde 2003 ? primeiro ano da gestão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
O resultado refletiu a perda de 415.192 vagas somente em dezembro ? número que ficou acima da média normalmente verificada nesse período, sugerindo que a recuperação do mercado de trabalho pode não estar ainda tão consolidada como parecia. De qualquer modo, a perda de empregos foi menor que a verificada em dezembro de 2008, no auge da crise, quando 654.946 vagas foram fechadas.
O ministro do Trabalho, Carlos Lupi, amenizou a surpresa negativa de dezembro e a frustração da meta. “No meio de uma crise, conseguir gerar praticamente 1 milhão de empregos é um dado altamente positivo. Mostra a força da economia brasileira”, disse ele, durante a apresentação dos dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged).
Até um dia antes da divulgação dos dados, Lupi garantia que haviam sido fechadas pouco mais de 300 mil vagas em dezembro, dentro da média verificada no mês. “Eu não esperava que tivesse uma queda tão grande em dezembro”, disse. “Mas meu erro é desprezível”, avaliou. A perda de postos de trabalho em dezembro só não foi ainda maior porque a contratação de 1,068 milhão de trabalhadores foi um recorde para o mês.
Na avaliação do ministro, seu objetivo só não foi alcançado porque a contratação de trabalhadores temporários foi mais alta do que em anos anteriores entre agosto e setembro ? algo próximo de 1 milhão ? e as dispensas de fim de ano acompanharam esse ritmo. O economista Fabio Romão, da LCA Consultores, endossou a tese do ministro. Segundo ele, a indústria contrata, em média, 40 mil pessoas nos meses de novembro, mas em 2009 foram 247 mil.
“Houve um ajuste em dezembro. Novembro teve contratação acima do esperado”, explicou Romão. Para ele, além das demissões de temporários, ocorreu também antecipação de contratação de trabalhadores. “Mas o importante é que o mercado de trabalho continua em recuperação”, complementou o economista.
Na expectativa de Lupi, o crescimento da economia brasileira deve garantir mais de 2 milhões de novos empregos neste ano. Isso deve ocorrer porque os setores que sofreram com demissões no fim de 2009, como é o caso da indústria, já estão ampliando as contratações.
“A indústria de transformação, que fechou 166.040 postos de trabalho em dezembro, já está contratando em janeiro. Provavelmente, será um dos setores que vai puxar o emprego em 2010”, destacou Lupi.
Em dezembro, todos os setores acompanhados pelo Caged ? extrativo mineral, indústria de transformação, construção civil, serviços, administração pública e agricultura ? demitiram mais que contrataram.
No ano, no entanto, apenas a agricultura não reverteu o número negativo e fechou 15.369 vagas. Na avaliação das contratações por Estado, São Paulo liderou o ranking de demissões com 191.186 vagas fechadas em dezembro. No ano, no entanto, teve um saldo positivo de 277.573 postos de trabalho.