País deve crescer 5,5% no ano e gerar 1,5 milhão de empregos

Pesquisa entre entidades do setor produtivo aponta retomada após o resultado ruim do ano passado

JUCA GUIMARÃES

O Produto Interno Bruto (PIB) costuma ser um ilustre desconhecido entre os brasileiros das classes C e D, porém, de acordo com uma pesquisa divulgada nesta quarta pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), o crescimento neste ano 2010, estimado em 5,5%, deve gerar cerca de 1,5 milhão de empregos e favorecer principalmente quem está nessas duas faixas de renda média individual (R$ 733, para classe D, e de R$ 1.276, para classe C, segundo dados IBGE).

O PIB representa a soma das riquezas geradas pelos setores produtivos dos país. O cálculo é feito pelo IBGE e é o mesmo usado por outro países.

De um modo geral, um bom resultado do PIB reflete de forma positiva para os consumidores nos preços de produtos, alimentos e serviços. Também promove um aumento na oferta de crédito, amplia as chances de financiamento da casa própria e garante uma oferta maior de produtos de consumo.

O Ipea consultou no último bimestre 115 entidades ligadas aos setores produtivos para saber qual a previsão de crescimento do país, geração de emprego e inflação para este ano.

De acordo com a pesquisa, por conta do crescimento da economia, deverão ser criadas 1,5 milhão de vagas.

“As classes C e D serão beneficiadas pelo aumento de vagas de trabalho com carteira assinada e pela oferta de produtos a preços menores. Com o crescimento do PIB, elas terão acessos a produtos que antes não tinham o hábito de consumir”, diz João Sicsú, diretor de estudos macroeconômicos do Ipea.

Esta é a segunda edição da pesquisa Sensor Econômico do Ipea. Na primeira, referente aos meses de janeiro e fevereiro, os setores produtivos estimaram um crescimento de 5,2% para o PIB brasileiro.

Os segmentos que participam da pesquisa do Ipea representam 83,6% do PIB.

“Para o trabalhador a expectativa de aumento do PIB é importante porque pode representar até um aumento da massa salarial. Como as indústrias estão produzindo mais, a mão de obra especializada é valorizada”, diz Emílio Alfieri, economista da Associação Comercial de São Paulo (ACSP).

O PIB brasileiro, o oitavo maior do mundo, é composto por 65% da produção do setor de serviços, 25% da produção da indústria e cerca de 10% de agronegócio. “Todos são setores com muito potencial de desenvolvimento, como a agricultura. Em períodos de PIB em alta, o setor de serviços é o principal responsável pelas contratações”, destaca Alfieri.

O PIB também está presente nas regras da política de valorização do salário-mínimo, que hoje é de R$ 510.

O reajuste do piso nacional é a soma da inflação do ano anterior (de acordo com o INPC) mais o percentual do crescimento do PIB de dois anos antes.

Consumidor percebe mudança
Apesar de pouco familiarizados com a sigla PIB, os trabalhadores já percebem no bolso e nas relações do dia a dia algumas das mudanças provocadas pela economia em crescimento.

O auxiliar de locação John Robson Ferreira Lima, de 36 anos, diz que desde o início do ano percebeu algumas melhoras na economia. “Na empresa, os carros foram trocados e mais funcionários, contratados. Quando faço compras percebo que os preços já não estão tão altos quanto antigamente”, diz Lima, que trabalha em uma agência de locação de veículos. “O volume de clientes também aumentou”, diz o auxiliar.

O servidor público Adriano Carril, de 28 anos, diz que o crescimento econômico do país é perceptível, porém, ainda não é o suficiente para acabar com as injustiças sociais.

“Esse aumento nas riquezas do país é bom, mas os problemas não são resolvidos. Ainda temos muitos mendigos e moradores de rua que recebem nada do governo”, diz.

Para a auxiliar de comércio exterior Elisa Barbosa, de 28 anos, a previsão positiva do PIB para 2010 tem, por enquanto, um reflexo limitado.

“Algumas coisas melhoraram, por exemplo, a oferta de crédito. Hoje é muito mais fácil conseguir um financiamento do que no ano passado, mas eu vejo que os preços nos supermercados não estão mais baratos”.

O economista Alcides Leite diz que realmente os reflexos do crescimento do PIB não são imediatos. “Precisa esperar”, diz.

Inflação deve ser de 5%
A opinião dos setores produtivos sobre a inflação para 2010 também mudou desde a última pesquisa Sensor Econômico do Ipea. Em janeiro e fevereiro, a inflação projetada para o ano era de 4,7% pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) do IBGE.

Na pesquisa divulgada nesta quarta, essa previsão subiu para 5,2%. O aumento de 0,5 ponto percentual reflete a preocupação dos empresários e dos trabalhadores com o aumento nos preços. “A inflação com um crescimento do PIB é o que pode se chamar de um bom problema porque reflete um movimento de distribuição democrática de renda e de acesso aos produtos. As classes C e D, por exemplo, estão consumindo mais cosméticos”, diz João Sicsú.

Para o economista da Associação Comercial de São Paulo, Emílio Alfieri, a inflação pode crescer ainda mais se o volume de consumo for maior do que a capacidade de produção das indústrias.

“Esse é um dos risco que o país corre com o aquecimento acelerado do consumo. Porém, por enquanto, as indústrias dizem que ainda têm bastante capacidade ociosa, por conta da crise do ano passado, para atender o consumo”, diz Alfieri.

De acordo com a economista Denise Lobato Gentil, da UFRJ, o Brasil acertou no incentivo à produção e ao consumo como solução para escapar da crise mundial.

“Justamente por causa da produção e do mercado interno, o país sofreu menos”, diz.