O saldo de empregos com carteira assinada criados em apenas cinco meses de 2010 já superou o total empregado em quatro dos sete anos do governo Lula. As estimativas do Ministério do Trabalho são de que o saldo, neste ano, será de 2,5 milhões de vagas – o melhor de todo o governo. Aliado a isso, os rendimentos estão em elevação. Segundo os sindicatos, mais de 80% das categorias terão reajuste salarial superior à inflação. O salário mínimo cresceu 9,4%, impactando quase dois terços dos benefícios previdenciários, e o restante terá reajuste de 7,7%, enquanto a folha de pagamentos do Executivo atingirá R$ 175 bilhões em 2010. Para muitos economistas, essa conjunção de fatores é explosiva. Mais que isso: é a renda em alta que pressiona a inflação.
“É difícil atribuir a alta inflacionária aos alimentos, como querem alguns”, diz Alexandre Schwartsman, economista-chefe do Santander e ex-diretor do Banco Central, em referência a justificativa de membros do governo aos preços em alta. Até abril, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) acumulou 3,2% e o mercado espera uma inflação entre 5,5% e 6% para o fim do ano – superior, portanto, aos 4,5% perseguidos pelo BC.
Segundo Schwartsman, o aumento da produtividade verificado na indústria neste começo de ano é apenas um reflexo da forte queda decorrente da crise mundial. “A produção já atingiu o nível do pré-crise, enquanto o emprego não para de crescer e os salários estão em alta”, diz o economista, para quem a combinação está “por trás do aumento da inflação” verificada desde o início do ano.
Para Bernardo Wjuniski, economista da Tendências Consultoria, basta “olhar para a economia como um todo” para perceber que a aceleração de preços é uma resposta ao aumento da massa de rendimentos, que pressionam o consumo. “O fator trabalho já ocupou todo o espaço perdido na crise, está no seu limite”, avalia. (JV)