Por João Villaverde | De Brasília
Se as medidas que o governo está preparando para as indústrias de autopeças e química realmente saírem do papel, como sinaliza a área econômica, os efeitos serão imediatos. Essa é a avaliação tanto de Fernando Figueiredo, presidente-executivo da Associação Brasileira da Indústria Química (Abiquim) quanto de Miguel Torres, presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo.
Como antecipou ontem o Valor, os técnicos do governo Dilma Rousseff estão trabalhando em medidas de estímulos para os dois segmentos que, segundo a área econômica, serão divulgadas nas próximas semanas.
O governo federal trabalha em medidas de estímulos tributários e de crédito aos setores, em troca de investimentos em inovação e maior utilização de conteúdo nacional nos produtos. As ideias incluem tornar as montadoras de veículos garantidoras, junto aos bancos, dos empréstimos tomados pelos fabricantes de autopeças, a utilização de recursos da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep) para o setor, e até uma ampla avaliação da situação fiscal das empresas do ramo.
Já para a indústria química, o governo deve criar um regime especial de tributação, onde os impostos serão reduzidos para as empresas que utilizarem insumos nacionais em seus processos produtivos, e que invistam em tecnologia e inovação.
Os dois setores estão contemplados com um conselho cada um no âmbito do programa Brasil Maior, que criou, em agosto do ano passado, 19 conselhos de competitividade setoriais, que unem técnicos do governo, empresários e sindicalistas.
Segundo Figueiredo, que também integra o conselho de competitividade do setor químico, se o novo regime de tributação for implementado, os fabricantes do setor devem gastar R$ 64,4 bilhões em investimentos em inovação entre 2013 e 2020. Os investimentos foram mapeados pela Abiquim junto às empresas do setor, levando em conta as necessidades de inovação de cada companhia.
A indústria química também dobraria, neste período, o pessoal ocupado nas fábricas e laboratórios – dos atuais 390 mil trabalhadores para cerca de 800 mil, em 2020. Essas projeções foram entregues pela Abiquim aos técnicos dos ministérios da Fazenda, do Desenvolvimento e de Ciência, Tecnologia e Inovação.
Quanto ao pacote de estímulos à indústria de autopeças, Torres, dos Metalúrgicos de São Paulo, avalia que a ideia é “ótima, mas os estímulos têm que vir logo”. Segundo Torres, a indústria de autopeças está no limite. “O único jeito do setor competir, e mesmo sobreviver, é por meio da inovação. As empresas e os trabalhadores já sabem disso. Mas o governo precisa estimular, dar as condições para que isso aconteça”, diz.