Piso salarial subiu menos em 2011, mas venceu a inflação

Inflação maior e reajuste de 0,4% no salário mínimo influenciaram aumentos concedidos aos pisos salariais

Tendência é que negociações sejam melhores em 2012; maior valor é o dos publicitários

Folha de S.Paulo
CLAUDIA ROLLI

A alta da inflação e o reajuste menor do salário mínimo em 2011 tiveram impacto direto nos aumentos concedidos aos pisos salariais no ano passado. Os ganhos reais desaceleraram em relação aos obtidos há dois anos.

Apesar de 92% dos pisos conseguirem reajustes acima do INPC (indicador do IBGE usado nas negociações salariais), somente 19% deles tiveram ganhos 5% superiores à inflação no ano passado.

Em 2010, o percentual de pisos com ganhos reais nessa mesma proporção foi maior: 34,6%. Nesse mesmo ano, 94% dos pisos salariais analisados tiveram reajustes acima do INPC.

Os dados constam de estudo divulgado pelo Dieese, que considera 671 pisos negociados por diferentes categorias profissionais do país.

“O salário mínimo ainda é referência para reajustar os pisos. Como não houve na prática aumento real do mínimo no ano passado, foi somente 0,4%, a magnitude dos aumentos dos pisos também foi menor em 2011”, diz o economista José Silvestre Prado de Oliveira, coordenador de Relações Sindicais do Dieese. Em 2010, o aumento real concedido ao salário mínimo havia sido de 5,9%.

A inflação também foi um fator decisivo nas negociações, segundo destaca o economista. O INPC acumulado em 12 meses anteriores a janeiro de 2010 foi de 3,45%. Em janeiro do ano passado, considerado o mesmo período acumulado, foi quase o dobro: 6,47%.

Para o economista Fábio Romão, da LCA Consultores, a desaceleração da economia a partir do último trimestre de 2011 também contribuiu para dificultar a obtenção de aumentos reais mais significativos. “Com inflação em alta e atividade econômica mais retraída, a negociação é mais desfavorável”, diz.

ENFERMEIROS LIDERAM

As categorias que conseguiram os maiores ganhos nos pisos negociados no ano passado foram enfermeiros de Curitiba (PR) e metalúrgicos do setor de usinas de Minas Gerais, com reajustes de 25% e 24,2% acima da inflação, respectivamente.

Entre os trabalhadores que tiveram as maiores perdas estão os metalúrgicos de Tubarão (ES) e os empregados do setor de vestuário de Nova Friburgo (RJ) (veja quadro).

Considerados os valores nominais, o piso médio valia R$ 738,29 no ano passado ante R$ 669,16 no ano de 2010. Entre os que exigem formação universitária, o maior piso salarial constatado no estudo foi na região Sudeste -R$ 4.359, pago ao setor de publicidade e comunicação. O menor valia R$ 607,74.

Entre as funções que não exigem nível universitário, os valores são bem inferiores: o maior valia R$ 1.720,32, e o menor, R$ 540 -equivalente ao valor do salário mínimo oficial.

Para este ano, a tendência é que os pisos e os salários consigam reajustes superiores aos do ano passado.

Na opinião dos dois economistas, como o salário mínimo teve aumento real maior (7,5%) e a inflação está em patamar mais baixo, os trabalhadores têm mais chances de fazer acordos favoráveis.