População jovem encolhe e afeta desemprego

Valor Econômico
Por Sergio Lamucci | De São Paulo

O ritmo mais fraco de crescimento da oferta de mão de obra tem um peso fundamental para explicar a baixa taxa de desemprego, dizem economistas que acompanham com atenção o mercado de trabalho. A população de 18 a 24 anos, por exemplo, está até mesmo encolhendo – depois de atingir 23,9 milhões de pessoas em 2005, recuou para 22,7 milhões em 2009 e deve cair para 21,9 milhões neste ano, segundo estimativas do departamento econômico do Bradesco, feitas com base em projeções do IBGE por faixa etária.

“O desemprego baixo no Brasil é hoje um fenômeno essencialmente demográfico”, acredita o economista-chefe do Bradesco, Octavio de Barros. “A população de jovens está menor, e eles ainda ficam mais tempo estudando.” O ponto é que, com a melhora do rendimento familiar, muita gente adia a entrada no mercado de trabalho. “É justamente a faixa etária em que grande parte da população está no começo da carreira profissional”, observa Barros.

Nesse cenário, a oferta de mão de obra tem crescido a um ritmo consideravelmente inferior ao da demanda. Como resultado, uma baixíssima taxa de desemprego, com salários em alta. Em maio, a desocupação nas seis principais regiões metropolitanas estava na casa de 5,5%, na série livre de influências sazonais da LCA (em junho, o IBGE não divulgou os dados relativos ao Rio de Janeiro e, em junho, os números do Rio e de Salvador, por causa da greve dos funcionários).

O Brasil passa por um processo de mudança demográfica bastante significativo, reiterado pelo Censo de 2010, do IBGE. Relatório do Bradesco, assinado por Ana Maria Bonomi Barufi, destaca que “a mudança da estrutura etária em curso nas últimas décadas se acentuou desde o Censo de 2000” -a participação da população com 65 anos ou mais foi bastante expressiva, assim como a fatia dos habitantes de menos de 15 anos. Em 1970, 42% das pessoas tinham menos de 15 anos, número que caiu para 24,1% em 2010. A fatia dos maiores de 65 anos, por sua vez, subiu de 3,2% para 7,4%.

Com isso, fica claro que o Brasil passa por um processo de rápido envelhecimento populacional, em que há uma tendência de forte declínio da taxa de fecundidade, como destaca reiteradamente em seus estudos o economista Jorge Arbache, professor da Universidade de Brasília (UnB) e assessor da presidência do BNDES. Isso tem um impacto dos mais relevantes sobre o mercado de trabalho, segundo ele.

A taxa de fecundidade, por exemplo, caiu de quase 6 filhos por mulher em 1970 para 1,9 em 2010. “Essa taxa é baixa mesmo para padrões internacionais e já se compara à de países ricos com estrutura demográfica madura, como o Canadá”, escreve ele.

O economista José Marcio Camargo, da Opus Gestão de Recursos, também vê o fator demográfico como um dos grandes motivos para a desocupação seguir tão baixa no país, mesmo com baixo crescimento da economia. “A população em idade ativa [PIA] tem crescido muito pouco, num cenário em que a produtividade do trabalho está estagnada”, afirma ele, também professor da PUC-Rio. Nos 12 meses até maio, ela cresceu apenas 1,2% – no meio da década passado, o aumento chegou a ser de 1,8%.

O crescimento mais fraco da PIA influencia o ritmo de expansão da população economicamente ativa (PEA), formada por quem está empregado ou busca emprego. Nos 12 meses até maio, a PEA avançou 1,3%.

Barros destaca que a população economicamente ativa tem avançado sistematicamente abaixo do nível da ocupação – entre 2004 e 2011, a PEA cresceu 1,6% ao ano e o nível de emprego, 2,5%. “Isso mostra que a oferta de mão de obra tem aumentado bem menos do que a demanda”, resume ele. Nos 12 meses até maio, a ocupação cresceu 1,9% – mais que o 1,3% da PEA. Não por acaso, a taxa de desemprego caiu com força nos últimos anos, recuando de 12,3% da média de 2003 para 6% em 2011. Para este ano, Barros acredita em nova queda, para 5,7% na média de 2012.

Outros fatores também explicam o desemprego baixo. Um dos mais importantes é que o setor de serviços, o maior empregador da economia, ainda cresce a um ritmo razoável, como lembra Camargo. Além disso, dada a escassez de mão de obra, as empresas evitam demitir, para não perder trabalhadores já treinados, num quadro em que se espera a recuperação da economia na segunda metade do ano.

Barros, Camargo e Arbache são unânimes em afirmar que, dada a menor oferta estrutural de mão de obra, o país precisará investir no aumento da produtividade. Se isso não ocorrer, o aperto no mercado de trabalho poderá se tornar uma fonte de pressões inflacionárias. Outra válvula de escape é o aumento da imigração, que tem aumentado expressivamente nos últimos anos, como nota Barros.