Resultado foi o melhor desde maio de 2011, mas desempenho ainda é menor que o do ano passado
Melhora do crédito e da confiança dos empresários e juros menores são fatores de impulso; crise global é trava
Folha de S.Paulo
PEDRO SOARES
DO RIO
Com o maior crescimento em um ano e três meses (1,5% frente a julho) e melhora espalhada por mais setores, a indústria acentuou sua retomada em agosto sob impacto de medidas de estímulo do governo ao consumo, como corte de tributos.
O setor deverá manter até o fim do ano a tendência de aquecimento iniciada em junho e será o principal motor da aceleração do PIB.
Mas a reação não será suficiente para zerar as perdas em 2012, antecipam analistas. A previsão é de uma queda em torno de 2% no ano -até agosto, a retração acumulada foi de 3,4%.
“A perspectiva é de impulso, mas a queda do primeiro semestre jogou a indústria para baixo e não há um cenário de avanço retumbante à vista nem em 2013”, avalia Sérgio Vale, economista da consultoria MB & Associados.
Para Vale, a eficácia da desoneração de IPI para bens duráveis (automóveis, linha branca e móveis), que puxou o desempenho da indústria, perderá força nos próximos meses com grande parte das compras já realizadas.
REDUÇÃO DO IPI
O corte de IPI, porém, se traduziu num crescimento de 9,4% do segmento de bens duráveis na fase recente de retomada (junho a agosto), acima da média dos 2,3% da indústria no período.
Segundo Rafael Baciotti, da Tendências, a medida ajudou a reduzir estoques e contribuiu para “disseminar” o crescimento para a longa cadeia de fornecedores do setor automotivo -o que já se notou de julho para agosto, com o crescimento de 2% da produção de bens intermediários (insumos e matérias-primas).
Aurélio Bicalho, economista do Itaú Unibanco, diz que o início da recuperação da indústria ficou centrado nos efeitos da benefício fiscal.
Para ele, nos meses anteriores, o avanço ocorreu em poucos ramos e muito dependente de veículos. “Agora é mais consistente, com ritmo maior de alta da produção e mais setores em expansão.”
Ao estímulo tributário, somam-se outros impactos positivos que começam a rebater na indústria e tendem a se intensificar, dizem analistas.
Entre eles estão a melhora do crédito, a redução dos juros (inclusive ao consumidor, com menores taxas de bancos públicos e instituições privadas) e a maior confiança de empresários.
Para André Macedo, do IBGE, esses fatores trouxeram “sinais alentadores” à indústria em agosto, principalmente pelo crescimento mais acelerado e amplo -dos 27 setores pesquisados, 20 tiveram taxas positivas em agosto.
Apesar da reação, diz, permanecem ainda travas ao setor industrial: os possíveis reflexos da crise global, o maior ingresso de importados e a freada de importantes mercados para produtos brasileiros, como a China.