Protesto contra desindustrialização reúne milhares em São Paulo


Grupo fez ato no estacionamento da Assembleia Legislativa.
País enfrenta ´avalanche de importados´, criticou Paulo Skaf.

Letícia Macedo e Carlos Oliveira

Sindicalistas e entidades que representam os empresários do setor produtivo protestaram na manhã desta quarta-feira (4) no entorno da Assembleia Legislativa de São Paulo contra a desindustrialização, a carga tributária brasileira e as dificuldades para criação de emprego no país. Eles reivindicam medidas do governo que garantam aumento da atividade econômica com menos impostos, além de juros mais baixos.

A manifestação ocorreu um dia após o governo federal anunciar um pacote de estímulo à competividade da indústria de R$ 60 bilhões, que inclui duas medidas provisórias e alguns decretos, desonerando a folha de pagamentos de 11 novos setores e viabilizando crédito mais barato por meio do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).

Por volta das 12h40, a manifestação já havia sido encerrada. Os organizadores chegaram a afirmar que cerca de 90 mil pessoas participaram do ato. Procurada pelo G1 pouco antes das 13h, a Polícia Militar disse que ainda não tinha balanço.

Às 12h30, a Companhia de Engenharia de Tráfego (CET) registrava 78 km de congestionamento em toda a cidade – 34% deles na Zona Sul. O índice estava acima da média para o horário. A companhia chegou a recomendar aos motoristas que evitassem a região do Parque Ibirapuera.

O presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Paulo Skaf, afirmou que o grupo fez um alerta contra a “falta de competitividade” do país. “Nós temos enfrentado uma avalanche de [produtos] importados porque o Brasil não tem competitividade”, comentou Skaf durante a manifestação.

Skaf também reclamou dos juros altos e do preço da energia no Brasil. “Nossos custos são altos. Se você tem uma doença que causa ferida, não adianta só passar pomada na ferida. Tem que eliminar a doença”, disse.

Sobre os transtornos causados pelo protesto no trânsito da capital, cujas avenidas na região do Ibirapuera continuavam congestionadas às 12h30, Skaf disse que a manifestação “atrapalhou um pouco”.

Para o presidente da Câmara Municipal de São Paulo, José Police Neto, as medidas lançadas nesta terça são setoriais. “É perigoso o fatiamento dessa suposta reforma tributária”, comentou. Segundo Police Neto, as medidas vão prejudicar São Paulo porque incentiva a indústria enquanto não faz o mesmo com a prestação de serviço e o comércio.

Segundo o deputado Paulo Pereira da Silva (PDT-SP), o Paulinho da Força, o plano de incentivos à indústria anunciado nesta terça pela presidente Dilma Rousseff “foi feito nas coxas” e “não ataca o cerne do problema”.

“O projeto de ontem são medidas pontuais e importantes. O governo desonerou 11 [setores produtivos], mas a indústria nacional é composto por 127 setores. O plano não ataca o cerne do problema. O coração do problema é juros e câmbio. O Brasil precisa baixa juros e equilibrar o câmbio. Foi um plano meio feito nas coxas, feito na madrugada”, disse Paulinho.