“Querem destruir função social da Caixa Econômica”, diz funcionário

Jair Ferreira, presidente da Federação de Funcionários da Caixa, organiza atividades para denunciar medidas de Temer

José Eduardo Bernardes 
Jair Ferreira participou de coletiva de imprensa no Centro de Mídia Alternativa Barão de Itararé / José Eduardo Bernardes/ Brasil de Fato

Transformar a Caixa Econômica Federal em uma Sociedade Anônima (SA) é interromper a função social de um dos maiores bancos do país, segundo Jair Pedro Ferreira, presidente da Federação Nacional das Associações do Pessoal da Caixa Econômica Federal (Fenae). Ferreira participou de uma coletiva de imprensa organizada pelo Centro de Estudos da Mídia Alternativa Barão de Itararé, nesta terça-feira (7), em São Paulo (SP).

A denúncia de Ferreira sucede a recente declaração da secretária do Tesouro Nacional, Ana Paula Vescovi, que, em outubro, afirmou que há discussões entre membros do governo golpista de Michel Temer (PMDB) para transformar a Caixa em uma sociedade anônima e abrir o capital da instituição financeira.

Funcionários da Caixa e entidades associadas ao banco começaram uma mobilização para impedir o processo, que eles consideram um “desmonte”. Nesta semana, quatro ex-presidentes do banco: Jorge Mattoso, Maria Fernanda Ramos Coelho, Jorge Hereda e Miriam Belchior, publicaram uma carta, pedindo uma “Caixa 100% pública”.

No documento, os ex-presidentes afirmam que “a abertura de capital da Caixa levaria ao seu fim como banco 100% público, até agora capaz de gerar políticas inovadoras, criar novos mercados, favorecer ações sociais e alavancar políticas anticíclicas em períodos de crise”.

Segundo Jair Pedro Ferreira, a intenção do governo golpista é fazer com que a Caixa opere com a lógica do mercado financeiro. “Ao transformar em uma SA, na nossa leitura de empregado, eles querem que a Caixa deixe de fazer esse papel, de fazer empréstimos a longo prazo, com juros mais baratos para a sociedade e passe a entrar na regra do sistema financeiro privado. Na primeira conversa, o governo afirmou que a Caixa terá apenas um acionista. Mas a gente viveu os anos 1990, sabendo o que isso significa, na prática. Ou seja, você dá um primeiro passo a partir daí”, explica o presidente da Fenae.

Projetos

A Caixa Econômica Federal é responsável por gerir programas sociais que se tornaram pilares da sociedade brasileira, entre eles, o programa habitacional Minha Casa Minha Vida e o Bolsa Família. Além disso, o banco foi vital, nos final dos anos 1980, para a unificação do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS).

No mercado imobiliário, o banco é central no financiamento de imóveis para todas as faixas de renda. Segundo Jair Pedro Ferreira, a Caixa é quem concentra 70% dos financiamentos do mercado imobiliário. Ferreira também lembra, com orgulho, do papel do banco na implantação do Bolsa Família.

“Quando foi criado o cartão Bolsa Família praticamente a gente eliminou aqueles guetos que as prefeituras, ou que as lideranças regionais, faziam para trabalhar com a baixa renda. Quando lançou o programa Minha Casa Minha Vida, em 2009, até hoje já foram entregues 2,630 milhões casas. Executa-se uma política desse tamanho. De 1964 até hoje, a Caixa já financiou 17 bilhões de casas”, aponta.

Os funcionários estão organizando uma série de atividades para informar sobre os perigos da decisão do governo golpista de Michel Temer. Nas próximas semanas, Jair Ferreira e outros membro da Fenae devem se reunir com movimentos de moradia para explicar o desmonte da Caixa.