Romi tenta comprar grupo nos EUA para dobrar de tamanho


Empresa fez oferta hostil de US$ 92 milhões pela Hardinge, que já valeu US$ 460 milhões

Raquel Landim

Uma das maiores fabricantes nacionais de máquinas e equipamentos, a Romi fez ontem uma oferta hostil para adquirir a americana Hardinge. Se for bem sucedida em convencer os acionistas, a companhia brasileira aproveitará a crise para fazer um ótimo negócio: comprar por US$ 92 milhões uma empresa que valia quase US$ 460 milhões em meados de 2007.

Ao adquirir a Hardinge, a Romi praticamente dobraria o volume de vendas, teria fábricas em diferentes continentes, incrementaria o portfólio de produtos e ganharia um canal de distribuição importante na Ásia e nos Estados Unidos. “A complementaridade é grande. A plataforma de atuação se tornaria global”, disse o diretor-presidente da Romi, Livaldo Aguiar dos Santos.

Há dois meses, a fabricante brasileira procura, sem sucesso, a diretoria da Hardinge para uma negociação. Por causa da falta de interesse da empresa americana, a Romi entregou ontem na SEC, o órgão regulador do mercado dos EUA, uma oferta para a aquisição de todas as ações da concorrente.

Ainda não é uma oferta pública aos acionistas, mas uma tentativa de forçar a diretoria da Hardinge a negociar. Se eles se recusarem, o movimento se transforma em uma oferta pública. A empresa americana possui 97% do capital na bolsa e apenas 3% nas mãos da diretoria. “Preferimos negociar com a Hardinge um acordo amigável”, frisou Santos.

A oferta da Romi é de US$ 8 por ação, um prêmio de 46% em relação aos US$ 5,48 do fechamento da quarta-feira. A empresa brasileira considera sua proposta bastante atraente. Com o anúncio da oferta, os papéis da Hardinge, que são negociadas na bolsa Nasdaq, saltaram ontem para US$ 8.

O valor de mercado da Hardinge era de US$ 92 milhões ontem, mas as ações da empresa já chegaram a valer US$ 39,8 no pico em julho de 2007. Depois disso, os papéis despencaram.

Fundada há 100 anos, a Hardinge, que está sediada em Elmira, no Estado de Nova York, foi duramente atingida pela crise. Conforme os resultados mais recentes divulgados, as vendas da empresa caíram 42% no terceiro trimestre de 2009 comparado com igual período de 2008. Na mesma comparação, a queda nas encomendas chegou a 49%.

“A demanda mundial por máquinas permanece severamente deprimida”, disse o presidente e diretor executivo da Hardinge, Richard Simons, na divulgação dos resultados. “Estamos competindo agressivamente por oportunidades limitadas.” Na época, a companhia americana divulgou o fechamento de “seções significativas” da fábrica em Elmira, e “redução adicional” de 15% do quadro de funcionários.

Graças à lucratividade e boas perspectivas, o valor de mercado da Romi é hoje de cerca de R$ 1 bilhão (US$ 531 milhões) – muito superior ao da Hardinge. Mas o tamanho das empresas não é muito diferente. A Romi terminou 2008 com uma receita operacional líquida de R$ 696 milhões (US$ 370 milhões), alta de 10,1% em relação a 2007. A Hardinge fechou 2008 com receita líquida de US$ 345 milhões, uma queda de 3%.

A Hardinge possui cinco fábricas espalhadas por Estados Unidos, Suíça, Taiwan e China. Já a Romi tem 11 unidades de produção – a maior parte na sede, em Santa Bárbara D”Oeste, e duas na Itália.

Mesmo no curto prazo, o negócio faz sentido para a Romi, apesar do desaquecimento global da demanda por máquinas. A Hardinge possui um importante rede de distribuição na Ásia, que pode alavancar as vendas da Romi em um mercado que cresce. “Além disso, os mercados maduros, como os EUA, não vão ficar deprimidos para sempre”, disse Santos.