SÃO PAULO- Os resultados das negociações salariais do primeiro semestre de 2011 são positivos e mantiveram certa estabilidade em relação a 2010, melhor ano para os reajustes reais, mas os salários continuam crescendo bem abaixo da produtividade média da economia, avalia o coordenador de relações sindicais do Dieese, José Silvestre Prado de Oliveira. Para a entidade, ainda existe uma “gordura” para melhorar os ganhos reais dos trabalhadores, que ocorreram em 84% dos 353 acordos realizados nos primeiros seis meses deste ano.
Segundo estimativa de Oliveira, considerando que o PIB de 2011 cresça 4%, a economia terá avançado três vezes mais no período de 2008 a 2011 do que o ganho real médio de 4,6% alcançado no mesmo triênio. No primeiro semestre, o reajuste real médio negociado foi de 1,37%, contra 1,59% no mesmo período do ano passado. “Os dados revelam que, no que pesem os bons resultados, os reajustes de uma maneira geral estão muito próximos do INPC [Índice Nacional de Preços ao Consumidor]”, afirmou o coordenador.
Oliveira destacou que praticamente 25% dos aumentos acima da inflação ficaram concentrados na faixa de 0,01 ponto percentual a 1 ponto acima do INPC, e que a maioria dos 6,8% de reajustes que não conseguiram recuperar a inflação são os que ficaram entre 0,01 p.p.e 1 p.p. abaixo do indicador. Por outro lado, a fatia dos aumentos entre 3,01 p.p. a 4 p.p. superiores ao INPC teve ligeiro aumento, de 6,2% no primeiro semestre de 2010 para 6,8% em igual período de 2011.
Para o Dieese, a diferença entre os dois anos é muito pequena e aponta claramente uma tendência que deve ser seguida ao longo do segundo semestre do ano, que concentra reajuste de importantes categorias, como petroleiros, bancários e metalúrgicos. “Quando divulgamos o balanço de 2010, comentávamos que a expectativa para 2011 era de continuidade, e os dados estão revelando isso.No começo do ano não tínhamos a questão da crise, mas a expectativa é que fechemos 2011 com resultados muito parecidos com os de anos anteriores”, disse. Em 2010, 89% dos reajustes tiveram aumento real.
Outro ponto discutido foi a tese de que aumentos mais robustos geram inflação. Para Oliveira, é certo que a inflação de 2011 será bem maior do que a de 2010, mas isso não é provocado pelos reajustes salariais, já que, até o meio do ano, “o salário médio cresceu bem abaixo da produtividade média da economia.”
Após a apresentação dos resultados, as centrais sindicais presentes afirmaram que continuarão lutando por aumentos reais maiores no segundo semestre e que a crise passará longe das empresas brasileiras, que não poderão usar as turbulências internacionais como desculpa para não conceder aumentos.
“Creio que toda aquela campanha feita no primeiro semestre que os salários poderiam prejudicar a inflação foi superada e que a melhoria de renda deu condições para o Brasil enfrentar a crise de uma maneira melhor do que os demais países”, comentou o secretário-geral da Força Sindical, João Carlos Gonçalves, o Juruna. “No segundo semestre a tendência será de enfrentamento se não tivermos ganhos reais”, completou.
(Arícia Martins | Valor)