Sergio Lamucci | De São Paulo
O rendimento dos trabalhadores nas seis principais regiões metropolitanas do país mostra alta expressiva e disseminada pelos vários setores da economia neste ano, num quadro marcado por desemprego baixíssimo. De janeiro a setembro, a renda cresceu 4% acima da inflação sobre o mesmo período do ano passado, com aumentos significativos na indústria (4%), no comércio (4%), na construção civil (5%), nos serviços domésticos (8,1%) e nos chamados outros serviços, que incluem alojamento, transporte, limpeza urbana e serviços pessoais (4,5%).
A ocupação, por sua vez, tem um desempenho mais moderado e menos homogêneo – sobe com força na construção, na administração pública e nos serviços a empresas e no setor financeiro, recuando na indústria e nos serviços domésticos. Na média de todos os segmentos, a alta é de 1,9% nos três primeiros trimestres. Todos os números são da Pesquisa Mensal de Emprego (PME) do IBGE.
O rendimento na indústria sobe com força neste ano, mesmo com o desempenho capenga do setor. De janeiro a setembro, a renda dos trabalhadores teve um aumento real (descontada a inflação) de 4%, a despeito de a produção industrial ter recuado 3,5% no período.
Para o economista Juan Jensen, da Tendências Consultoria, a indústria tem concedido reajustes salariais robustos para não perder trabalhadores, num momento em que o mercado de trabalho está aquecido e o setor de serviços compete por eles.
“A indústria é pressionada a aumentar a remuneração de seus empregados, para não ficar sem mão de obra capacitada e qualificada, que poderia ir para os serviços”, diz o economista Caio Machado, da LCA Consultores. Jensen e Machado afirmam que as empresas do setor optaram por reter mão de obra neste ano, apesar da produção fraca.
Segundo eles, a expectativa de melhora da atividade na segunda metade deste ano – que começou a ganhar corpo nos últimos meses- fez as indústrias evitarem grandes demissões. Num quadro de baixo desemprego e falta de mão de obra qualificada, perder trabalhadores especializados é um risco que muitas empresas preferiram não correr.
Para completar, o grau de formalização é hoje mais alto, e demitir funcionários com carteira assinada tem um custo elevado. Todos esses fatores ajudam a explicar por que a indústria tem concedido aumentos robustos, mesmo num momento em que enfrenta problemas de competitividade.
O nível de emprego no setor, por sua vez, encolheu 0,5% de janeiro a setembro. “Mesmo assim, a queda da ocupação foi num ritmo menor que o sugerido pelo recuo na produção. Mais trabalhadores teriam sido demitidos se o passado fosse um bom guia nesse caso. Houve retenção de mão de obra”, analisa Machado.
Jensen afirma que os aumentos fortes de salários afetam a competitividade da indústria, que tem dificuldade de repassar a alta de custos para os preços, dada a concorrência externa ainda forte, mesmo com o câmbio um pouco mais desvalorizado. No setor de serviços, pouco ou nada exposto à competição internacional, os reajustes salariais têm muito mais facilidade em se traduzir em preços mais altos – não por acaso, a inflação de serviços roda na casa de 8% no acumulado em 12 meses.
O nível baixíssimo de desemprego na economia tem grande importância para o avanço forte do rendimento neste ano, ressalta Jensen. Aumenta a capacidade de pressão dos trabalhadores, que tendem a conseguir reajustes robustos, complementa Machado. Em setembro, a taxa de desemprego ficou em 5,4%, o nível mais baixo para o mês desde o começo da nova série da PME, em 2002. Além da retenção de mão de obra e do crescimento mais forte do setor de serviços, um grande empregador, fatores demográficos também explicam a desocupação baixa no país. A taxa de fecundidade da mulher brasileira caiu muito, o que diminui a oferta de trabalhadores.
O próprio aquecimento do mercado de trabalho explica o bom desempenho do setor de serviços. A alta forte do rendimento e – em menor medida – da ocupação alimenta a demanda por essas atividades, que têm mais espaço e necessidade de fazer mais contratações.
De janeiro a setembro, cresceu 3,5% o nível de emprego no setor que engloba serviços a empresas, intermediação financeira (como bancos) aluguéis e atividades imobiliárias. Também houve um aumento forte, de 3,6%, no segmento que inclui administração pública, educação, saúde, serviços sociais, defesa e seguridade social.
O setor de serviços domésticos se destaca pela alta muito expressiva do rendimento, combinada com uma queda considerável da ocupação. De janeiro a setembro, a renda no segmento superou a inflação em 8,1% em relação ao mesmo período de 2011. A alta reflete em parte o reajuste real de 7,5% do salário mínimo neste ano, uma referência importante para a categoria, mas também a menor oferta de trabalhadores, nota Machado. Com o aquecimento do mercado de trabalho, empregadas domésticas têm buscado emprego em outros setores, o que fica claro no recuo de 1,9% registrado pela ocupação nos serviços domésticos.
A construção civil, por sua vez, registrou aumento forte da ocupação e do rendimento real de janeiro a setembro, de 4% e 5%, pela ordem. Há escassez de mão de obra no setor, o que ajuda a entender o resultado, mesmo num momento em que construtoras enfrentam dificuldades. Nos últimos meses, porém, a renda e o emprego no setor perderam fôlego. Em janeiro, o rendimento real na construção aumentou 13,8% sobre janeiro de 2011; em setembro, a alta nessa mesma comparação foi de 1,9%.
Para os próximos meses, a expectativa dos analistas para o mercado de trabalho continua favorável, dado à perspectiva de consolidação da retomada da atividade. “Avaliamos que a aceleração da economia ao longo do segundo semestre deste ano e no começo de 2013 deve manter o emprego em expansão e a renda em alta”, resume, em relatório, o economista Aurélio Bicalho, do Itaú Unibanco.