Sindicalistas debatem Comissão da Verdade dos Trabalhadores

Tiago Santana

Mesa de debates

Os trabalhadores terão a sua comissão da verdade para fazer um levantamento dos companheiros que foram perseguidos, cassados e mortos. Durante a tarde desta quinta-feira, dia 28, dirigentes sindicais debateram o tema: “Comissão da Verdade: os operários vítimas da ditadura militar” durante o Ciclo de Debates, realizado no Centro de Memória Sindical.

Fundada em 18 de novembro de 2011, a Comissão da Verdade do governo federal tem o propósito de investigar violações de direitos humanos ocorridas entre 1946 e 1988 no Brasil. João Carlos Gonçalves, Juruna, secretário geral da Força Sindical, ressaltou que as centrais sindicais unificarem o trabalho para fortalecer a investigação dos fatos que ocorreram durante o período da ditadura. “Mais uma vez é importante que o movimento sindical unifique as ações para que os culpados pelo golpe sejam identificados e punidos”.

“No período de 1964 a 1988, durante o regime militar, instituiu-se no país uma política de repressão e violência contra aqueles que adotassem atitudes supostamente contrárias ao regime. Foram assassinados ou desapareceram diversos ativistas políticos e o movimento sindical foi um dos principais alvos da ditadura, que aniquilou o movimento já em 1964, intervindo nos sindicatos e cassando os sindicalistas”, declarou Juruna.

Hugo Perez, assessor político da Força Sindical e mediador do debate, lembrou que hoje o principal aqui é recuperar a história do movimento sindical. “As maiores conquistas dos trabalhadores não são ressaltadas pela classe dominante e o momento vivido pela classe operária precisa ser mostrado para toda a sociedade”.

Ivan Seixas do Fórum dos ex-presos políticos e da Associação de Familiares de ex-presos políticos, disse que para falar da comissão da verdade é preciso esmiuçar o papel desta comissão. “O golpe de 64 foi um assalto ao poder e aos cofres públicos”, lembrou Ivan que disse ainda que “naquele período existia um projeto em defesa da classe trabalhadora. Foi um golpe contra o povo e os interesses do país”.

Ivan lembrou ainda que durante o período da ditadura foram feitas intervenções em todos os sindicatos com o objetivo de desorganizar os trabalhadores. “O golpe queria transformar a classe trabalhadora em cordeirinhos do sistema. A Comissão da Verdade precisa do apoio do movimento sindical para que a verdade apareça e a situação não se repita”.

José Ibrahin, ex-presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de Osasco, cassado pela ditadura em 1968, ressaltou que Argentina, Chile e Uruguai, já prenderam seus generais e ex-presidentes que participaram do golpe nestes países e que esta comissão chega tarde, mas ainda sim num momento importante. “Esse é um problema da classe trabalhadora. O golpe foi contra todos os trabalhadores”, disse Ibrahin que lembrou ainda que “assim que o golpe foi instituído as primeiras intervenções foram feitas nos sindicatos e os primeiros a serem presos foram dirigentes sindicais”.

Ibrahin lembrou dos casos mais emblemáticos da arbitrariedade da ditadura que foram as mortes dos metalúrgicos Manoel Fiel Filho (1927-1976) e Santo Dias (1942-1979). “Além destes, muitos outros sindicalistas sofreram de diversas formas com a repressão instituída pelo governo”.

José Gaspar, ex-preso político e hoje tesoureiro do PDT-SP, lembrou que “hoje, o Brasil inicia um complexo processo de acerto de contas com o passado. A Comissão da Verdade buscará esclarecer passagens obscuras da nossa história”.

Gaspar alertou que este deve ser um trabalho coletivo que envolva todos os interessados em que a história daquele período seja investigada de forma concreta e que os culpados sejam punidos.

Augusto César Buonicore, Historiador e Secretario Geral da Fundação Mauricio Grabois, enfatizou que este é um acontecimento importante e que acontecerá em diversas cidades. “Vemos a união de diversas correntes políticas para resgatar a história do movimento sindical e o período da ditadura”.

Augusto lembrou que o golpe foi arquitetado e realizado por um grupo que queria deter o avanço da classe trabalhadora. “Os grandes bancos, a grande imprensa e os grandes empresários paulistas contribuíram e sustentaram de forma contundente o golpe e este é o momento da sociedade saber de toda a verdade”.

Sebastião Neto, Diretor do IIEP e membro da coordenação do Projeto de Memória da OSMSP, disse durante sua intervenção que é importante entendermos de que forma a repressão agiu nos trabalhadores e contar a nossa versão do período da ditadura. “Temos a tarefa de recuperar a história, mas também identificar e punir os responsáveis pelo golpe”.

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