Sindicatos se globalizam na esteira das empresas

Daniela Chiaretti

Se as grandes corporações empresariais se tornaram globais, os movimentos sindicais estão seguindo a trilha. Uma delegação de sindicalistas e ativistas dos Estados Unidos está no Brasil como parte de uma campanha mundial pelo direito à sindicalização dos trabalhadores da montadora Nissan no Mississipi, o mais pobre dos estados dos EUA. Cumprem uma agenda que inclui encontros com lideranças das centrais sindicais brasileiras, protestos em frente à unidade da Nissan em Curitiba e até uma reunião com o ministro Gilberto Carvalho, secretário-geral da Presidência da República.

À frente desta comitiva estão Robert King, o presidente do United Auto Workers (UAW), um dos maiores e mais antigos sindicatos de metalúrgicos dos Estados Unidos, e o ator Danny Glover, conhecido por seus papéis em “A Cor Púrpura” ou “Máquina Mortífera” e que também é um famoso ativista pelos direitos humanos nos EUA.

“A Nissan nos EUA não respeita as regras internacionais da organização do trabalho”, diz “Bob” King. A empresa intimida quem quer permitir a entrada do sindicato na fábrica no Mississipi, onde trabalham 5.000 pessoas e são produzidos sete veículos diferentes. “Dizem que, se o sindicato entrar, a fábrica pode fechar”, denuncia Morris Mock, que trabalha há dez anos na fábrica do Mississipi e faz parte da delegação que está no Brasil. Carl Patton, que também trabalha na Nissan do Mississipi, diz que 40% dos empregados são temporários e não têm direitos, não há plano de aposentadoria e a assistência médica não é boa como já foi.

Segundo King, quando a empresa chegou ao Mississipi, prometeu bons salários e benefícios e, no começo, agiu assim. “Antes de a Nissan aparecer, os trabalhadores no Mississipi ficavam felizes quando recebiam US$ 12/hora. Quando a empresa chegou, a faixa subiu para US$ 14 a US$ 23/hora”, diz. No Tenessee, onde a Nissan tem outras duas unidades, paga US$ 1,50 a US$ 2 a mais por hora, e as condições de trabalho são melhores, diz o sindicalista. “Mesmo assim, trabalhar na Nissan era o melhor emprego do Mississipi”, disse King ao Valor. “Depois, mudaram.”

Nos anos 70, o UAW chegou a ter mais de 1, 2 milhão de associados e agora, depois da crise da indústria e dos sindicatos, tem 400 mil filiados ativos e 600 mil aposentados. Uma das marcas da gestão de King frente ao UAW é tonar as lutas sindicais globais. “Temos sido muito ativos em tentar formar redes sindicais globais e aumentar os salários em países em desenvolvimento, de modo a que as empresas não busquem o lugar onde podem pagar menos e sim onde podem fabricar os melhores produtos”, continua King.

“Todos nós sabemos que os lucros das empresas aumentaram muito nos últimos anos, mas os salários dos trabalhadores estagnaram”, diz o ator Danny Glover, que soube do caso da Nissan no Mississipi há um ano e se engajou na luta. Ele cresceu em uma família de sindicalistas. “É crucial manter o ativismo na base da sociedade”, diz Glover, que volta do Brasil direto para filmagens no Alabama com o ator Nicholas Cage.

A campanha pela mudança de atitude da Nissan no Mississipi é global. Os ativistas já foram ao Reino Unido, França, Alemanha, África do Sul e Austrália, entre outros países. “Durante um ano e meio trabalhamos próximos aos colegas japoneses, mas depois a empresa se fechou”, diz King. “É uma decisão ruim para os negócios e para a marca”, avalia.

No Brasil, a aliança Renault Nissan está investindo R$ 2,6 bilhões na fábrica de Resende, no Rio de Janeiro, que está sendo erguida em terreno de 3 milhões de m2 e terá capacidade inicial para 200 mil veículos. A assessoria de imprensa divulgou ao Valor o posicionamento oficial da empresa sobre as denúncias envolvendo a unidade no Mississipi. “As alegações contra a Nissan que pautam os manifestos da UAW no Brasil e no mundo não são verdadeiras. Como uma companhia global, a Nissan respeita o direito dos nossos empregados de decidir se devem ou não filiar-se aos sindicatos. Além disso, a empresa segue todas as leis trabalhistas e regulamentações de cada país em que opera. Nosso histórico positivo em relação a esses casos contrasta diretamente com os argumentos da UAW.”