Mulheres levaram seus filhos para ato em apoio aos professores e servidores públicos em greve há quase duas semanas
Rute Pina
Os servidores municipais de São Paulo, que estão em greve, ganharam reforço na manifestação em frente à Câmara Municipal nesta terça-feira (20): mães e alunos de escolas públicas da cidade que apoiam a paralisação dos professores.
Um grupo de mulheres se organizou voluntariamente por meio de um grupo no Facebook para apoiar os docentes. Alita Mariah é uma dessas mães e esteve presente no ato. Seu filho estuda em uma Escola Municipal de Ensino Infantil na zona oeste da capital paulista.
Ela relata que as colegas estão tendo que se organizar para permanecer com os filhos com a falta de aula, mas sabe que a reivindicação dos docentes também tem a ver com os direitos das crianças.
“A gente entende que a greve é justa porque os professores serão mais descontados do que eles já são, com um salário que já é defasado. Como é que eles vão conseguir ficar com nossos filhos, com salas superlotadas e ganhando mal e em escola precária?”, questionou.
Os professores municipais estão em greve desde o dia 8 de março. A principal reivindicação é a retirada do PL 621/2016, que aumenta a contribuição previdenciária municipal — o desconto na folha de pagamento, que hoje é de 11%, passa a ser 14% com acréscimo de 5% em alguns casos. O SampaPrev, nome da proposta da prefeitura, vai afetar cerca de 220 mil servidores públicos.
Até semana passada, a escola do filha da fotógrafa Marcelli Zillo, na Vila Matilde, ainda não havia aderido à greve. Ainda assim, ela buscou informações para participar dos atos de mobilização dos professores.
Ela, que é autônoma e trabalha em casa, afirma que apesar de ter a rotina afetada, apoia as reivindicações dos servidores.
“A gente está em um ponto da história do nosso país, a gente chegou em um patamar que não dá mais. O projeto da Prefeitura e do governo [estadual] é precarizar o serviço público para gente migrar para a iniciativa privada. A gente não pode deixar este tipo de coisa passar, a gente tem que apoiar os professores por mais que a gente se prejudique um pouco e tenha que fazer algum sacrifício”, disse.
Zillo afirma que apoia os docentes porque, além da reforma da Previdência municipal, uma série de outras medidas que foram pautadas na Educação na cidade prejudicam a qualidade do ensino, como foi o caso da “farinata” —proposta do prefeito tucano para substituir a merenda escolar por um composto produzido a partir de alimentos próximos ao vencimento.
Ela também lembra da falta de estrutura para os profissionais que causa, por exemplo, a superlotação de salas de aula. “Na sala da minha filha são mais de 30 crianças de 5 anos que a professora cuida todos os dias. Isso é impraticável. Eu tomo conta de uma e sei como é difícil”, disse.
A Secretaria Municipal de Educação informou que todas as aulas perdidas pela greve serão repostas. “O que são umas férias perdidas ou eu ter que ficar com minha filha uma semana, um mês que seja perto de direitos roubados e da precarização da educação?”, questionou Zillo.
Diálogo com a comunidade
O Comitê de Mães e Pais da Escola Municipal de Ensino Fundamental (EMEF) Jardim Fontalis, na zona norte da capital paulista, tem trabalhado para conscientizar a comunidade de pais no bairro Flor de Maio, como explica Patrícia Pires, que tem dois filhos que estudam na unidade.
“É muito difícil orientar quem não vive o movimento escolar. Eles acham que os professores estão fazendo isso porque querem ganhar mais, porque eles ganham muito. Mas a gente sabe que não é bem assim”, disse.
Ela considera o PL de Doria unilateral, arbitrário e anti-democrático. “Resolvemos apoiar os professores porque nós sabemos que, dentro do chão de escola, existe falta de materiais; têm que tirar xerox nas suas próprias casas, entre outras coisas”, relatou.
Prosseguimento da greve
Nesta terça-feira, o Colégio de Líderes da Câmara recuou em votar o SampaPrev e as sessões que ocorreriam na madrugada foram desconvocadas.
A vereadora Juliana Cardoso (PT) acredita que esta semana o projeto não entra na pauta. “Os vereadores não estão se sentindo confortáveis [para colocar em votação]. Mas isso também pode ser um método para acabar com a mobilização popular. Temos que lutar por sua retirada”, declarou.
A Prefeitura de São Paulo afirma que a previdência municipal é “necessária para garantir que os servidores recebam seus direitos integralmente no futuro”. A administração calcula que o déficit previdenciário pode chegar a R$ 8,4 bilhões em 2020. No entanto, especialistas afirmam que iniciativas similares à proposta de Doria apresentam problemas em outros estados.
Os professores e servidores públicos municipais da capital paulista permanecem em greve. Outra manifestação está convocada para a quinta-feira (22). A concentração ocorre às 13h em frente à Prefeitura. Na ocasião, os servidores devem decidir, em assembleia, a continuidade da paralisação.