Juca Varella – Enviado especial ao Pará
Em meio a uma disputa sindical nas obras da usina hidrelétrica de Belo Monte, a maior obra do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento), o Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias da Construção Pesada, o Sintrapav, iniciou nesta segunda-feira (23), ainda de madrugada, uma greve por tempo indeterminado.
Segundo o sindicato, a paralisação alcançou a adesão de mais de 80% dos cerca de 7.000 funcionários da obra. Sem falar em percentual, o Consócio Construtor Belo Monte admitiu agora há pouco que as cinco frente de obras estão paralisadas. Ao longo do dia, o consórcio deve se pronunciar sobre o assunto.
A greve iniciada nesta segunda-feira deve prejudicar ainda mais o cronograma da obra. A Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica) já considera os trabalhos de Belo Monte atrasados. Algumas estruturas de apoio aos trabalhadores sequer foram montadas. A primeira turbina deve gerar energia em janeiro de 2015.
O movimento já preocupa o governo federal, principalmente em razão dos desdobramentos que eventos desse tipo geraram na hidrelétrica de Jirau, em Rondônia. Em princípio, a mobilização parece ser pacífica.
Entre os trabalhadores, circulou durante toda a mobilização desta manhã um funcionário enviado pela Secretária Geral da Presidência, pasta ligada ao gabinete da Presidente Dilma Rousseff e comando pelo ministro Gilberto Carvalho.
São duas as reivindicações que embasam o movimento grevista. O sindicato quer a elevação do valor do vale-alimentação dos atuais R$ 95 para R$ 300 e a redução de seis para três meses o intervalo em que o operário migrante pode retornar à cidade de origem.
O Consórcio Construtor de Belo Monte aceitou elevar o valor do vale para R$ 110 e apenas ampliou de nove para 19 dias o tempo de afastamento, sem alterar os intervalos de 180 dias. Os dez dias adicionais devem, entretanto, contar como antecipação de férias. A proposta foi recusada.
O piquete foi montado no km 27 da Rodovia Transamazônica, na entrada da vicinal que dá acesso a algumas das principais frentes de obra, como os diques, os canais e a barragem do Sítio Pimental. O objetivo foi vetar a entrada de qualquer trabalhador das áreas operacionais.
Juca Varella/Folhapress Trabalhadores reunidos em piquete que deu início à greve na obra da usina de Belo Monte, no Pará |
Os motoristas foram orientados pelo comando de greve a estacionar os ônibus no acostamento da estrada e aguardar o ato organizado pelo sindicato. Grande parte dos trabalhadores retornou à cidade de Altamira, antes da assembleia.
LIBERADOS
O sindicato liberou apenas alguns funcionários lotados nos chamados serviços essenciais, como as cozinhas das frentes de obras. Chefes do Consórcio Construtor Belo Monte estiveram no local tentando liberar os ônibus com trabalhadores, mas não conseguiram.
Um bate-boca entre líderes sindicais e encarregados do consórcio deixou o ambiente tenso por alguns minutos. Por meio do carro de som, os sindicalistas acusaram os chefes de assédio. A reportagem da Folha chegou a ver membros da chefia filmando com celulares funcionários das obras.
Embora com a rodovia parcialmente fechada, a Polícia Rodoviária Federal não foi ao local. Quatro viaturas da Polícia Militar do Pará chegaram ao trecho às 7h15, mais de duas horas depois de iniciado o piquete.
Uma pequena assembleia foi organizada pelos líderes sindicais. Representes do comando de greve, inclusive membros da Força Sindical (central a qual o sindicato está filiado), pediam mais empenho dos trabalhadores no movimento grevista.
O presidente do Sintrapav, Giovani Resende, chegou a pedir ajuda: “Ajude a gente a ajudar vocês”, disse ao final do discurso, antes de liberar os trabalhadores para o retorno a Altamira.
DISPUTA
A data-base da categoria é novembro, mas uma disputa pela representação sindical local pode ter deflagrado o movimento grevista que se iniciou hoje.
O Conlutas, uma organização sindical dissidente da CUT (Central Única dos Trabalhadores), organizou na última quinta-feira (19) uma reunião em Altamira com objetivo de também se envolver no movimento grevista.
Circula em Altamira uma avaliação de que essa chegada do Conlutas pode ter precipitado a paralisação como forma de o sindicato mostrar força junto à categoria.
Disputas sindicais em regiões de grandes obras de infraestrutura também trazem problemas em outras frentes, como as hidrelétricas do rio Madeira, Jirau e Santo Antônio.
No caso de Belo Monte, o interesse é maior. A obra de Belo Monte já mobiliza 7.000 trabalhadores. Até 2013, serão 21 mil operários.