Fonte: Assessoria de imprensa do Sindicato dos Metalúrgicos de Osasco
A Volkswagen não será a única a ser cobrada na Justiça pela sua colaboração com a ditadura. Movidos pela certeza comprovada por uma série de documentos e depoimentos que confirmam o relacionamento estreito entre órgãos de repressão e empresas nacionais e multinacionais, trabalhadores e ex-presos políticos se preparam para apresentar ao Ministério Público Federal novas representações.
O assunto foi discutido em seminário no último final de semana, no Sindicato dos Químicos, em São Paulo, que reuniu dirigentes sindicais, ex-presos políticos e pesquisadores, entre eles a Secretária de Direitos Humanso da Força Sindical, Ruth Coelho, o diretor do Sindicato dos Metalúrgicos de Osasco e Região, Gilberto Almazan.
As investigações do grupo de trabalho GT13, das centrais sindicais, ligado a CNV (Comissão Nacional da Verdade), da qual a Força Sindical fez parte, e das diversas comissões da verdade – setoriais, municipais, estaduais – levaram a uma série de comprovações em relação a empresas como Docas, Petrobras, Metro de São Paulo, entre outras.
A ideia é que a representação contra a Volks, assinada pelas centrais – feita ao Ministério Público Federal em setembro – foi um importante ponto de partida. Mas há tantas outras empresas que compactuaram financeiramente, com infraestrutura, delação de trabalhadores, entre outras formas para que a repressão e a tortura fossem praticadas.
O objetivo é a reparação coletiva dos danos provocados por tal pacto, nocivo aos trabalhadores e ao país. “Não nos contenta reivindicar apenas salários e condições de trabalho, mas queremos ser protagonistas da história e mostrar que a participação civil teve algo de importante e expressivo na ditadura”, defendeu a advogada Rosa Cardoso, ex-membro da CNV.
Até porque muitos dos mecanismos de repressão contra os trabalhadores adotados à época ainda são utilizados por empresas quando se veem diante das manifestações dos sindicatos, como fotografar lideranças, apresentar seus dados à polícia, entre outras condutas.
O caso Volks – A Volkswagen forneceu carros à Operação Bandeirantes (Oban), enquanto outras empresas se encarregavam de outros suprimentos. “A Ford e a Volkwswagen forneciam carros, a Ultragás emprestava caminhões e a Supergel abastecia a carceragem da rua Tutóia com refeições congeladas”, conforme a representação, citando trecho do livro “A ditadura escancarada”, de Elio Gaspari.
A militarização do serviço de segurança da montadora é outra evidencia. Agentes da repressão , dirigiram o serviço de segurança da Volkswagen, como o coronel Adhemar Rudge de 1969 até 1991.
Além disso, a montadora elaborava listas de trabalhadores considerados “agitadores” políticos, as chamadas “listas sujas”, as quais serviam a repressão e também para que outras empresas não os contratassem, de acordo com a representação. Outro recurso utilizado era tirar fotografias de grevistas, que foram repassadas ao Dops (Departamento de Ordem Política e Social).
Mas, são os relatos dos trabalhadores presos e agredidos dentro das instalações da montadora que mais explicitam o envolvimento. Um deles é Lúcio Bellentani, membro do PCB (Partido Comunista) preso em 1972. “Quando foi 11 e meia da noite. Estava na manutenção da sala de prensas da ala 4, estava ali trabalhando, estava de costas, quando a metralhadora me bateu na costela. Eu olho para trás e vi o chefe de seguranças da Volks encostado na coluna, perto do corredor, com um raio de uma arma que nem um revólver, um parabélum dessa idade assim, na mão. Aí, já me pegaram, no meio da seção. A peãozada ficou toda olhando, sem entender bulhufas. Me levaram para o departamento pessoal. Nem para a segurança eu fui, fui para o departamento pessoal.
Cheguei lá, estava o Amauri Dagnoni, com os caras. Ali eu já comecei a levar umas porradas.
Lucio foi levado ao Dops e ficou preso por 47 dias. Outros 22 trabalhadores da montadora foram conduzidos a sessões de tortura na sequencia.
A representação solicita a abertura de inquérito para investigação das denúncias apresentadas e enfatiza que elas se configuram crimes contra a humanidade.
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