Trabalhadores se organizam em redes sindicais pra enfrentar poder das grandes empresas

A globalização da economia levou os trabalhadores de grandes empresas a se organizarem em redes sindicais com a participação de entidades instaladas em várias partes do mundo.

Metalúrgicos, químicos, têxteis e empregados na área de vestuário se organizam na IndustriAll Global Union; os telefônicos e os comerciários na UNI América, os trabalhadores da alimentação na Uita e os da construção civil e pesada, por exemplo.

Para formar uma rede sindical é vital a participação do sindicato de trabalhadores onde a empresa estiver sediada. Este sindicato deverá buscar permanentemente contato com os demais sindicatos em que hajam plantas dessa empresa e que podem estar situadas em qualquer lugar do mundo.A rede tem o poder de deliberação, mas o de executar é do sindicato.

Podemos citar como exemplo de empresas que têm redes sindicais a  Arcelor Mittal,a Nestlé, a Walmart ea  Movistar (Vivo no Brasil). A organização destas redes não é homogênea. Algumas estão funcionando há algum tempo e outras estão apenas começando.

“Os sindicatos de trabalhadores de um determinado  aís se reúnem e debatem seus problemas. O mesmo se dá com os sindicatos da América Latina, de cada um dos continentes e depois do mundo inteiro com o presidente da empresa.  Por exemplo, nos dias 7 e 8 de outubro, os dirigentes sindicais associados à Federação dos Trabalhadores para América Latina da Nestlé (Felatran) vão se reunir para debater os problemas que enfrentam nos países latino-americano”, informa Melquíades de Araújo, presidente da Fetiasp (Federação dos Trabalhadores nas Indústrias da Alimentação do ESP) e da Felatran. O resultado da reunião será levado a Genebra, no encontro com o presidente da Nestlé, que acontecerá entre 21 e 25 de outubro.

“Nestas reuniões não se discute salários ou hora extra etc…Os debates giram em torno de problemas sociais que os trabalhadores enfrentam e de temas como saúde, segurança, rotatividade, terceirização e precaridade no trabalho, entre outros”, informa Araújo.

Na área do comércio, os sindicalistas analisam se as grandes corporações seguem seus países de origem ou daqueles onde estão instaladas. Verificam se os trabalhadores têm carteira profissional assinada, bom salário, boa alimentação e alojamento. “Para a Copa do Mundo reivindicamos Trabalho Decente”, declara Ademir Lauriberto Ferreira, que integra a Secretaria dos Trabalhadores do comércio e serviços da Força Sindical. O secretário internacional da UNI América da América Latina  é Luiz Carlos Motta, presidente da FecomerciáriosSP.

“A experiência do trabalho de rede sindical é excelente e hoje posso dizer que é fundamental”, declara Cenise Monteiro de Moraes, diretora de Relações Internacionais da Federação Nacional dos Trabalhadores em Telecomunicações (Fenatel). Uma vez por ano, os sindicatos de trabalhadores que têm a Vivo em suas bases participam da reunião com o presidente da Movistar. “Nestes encontros podemos resolver grandes conflitos e, com base nas informações que recebemos, podemos elaborar nossos planos de ação”, explica. Outra empresa que formou a sua rede agora foi a Claro. Junto com a Embratel fazem parte do grupo América Móvel.

IndustriAll
A IndustriAll já existe em 140 países do mundo e representam 50 milhões de trabalhadores metalúrgicos, químicos, têxteis e trabalhadores na área dos vestuários. Os trabalhadores debatem os critérios de como será desenvolvida a rede e com que recursos vão sustentá-la, como serão escolhidos os coordenadores, como será a participação dos sindicatos dos diferentes países, informa Edson Bicalho, coordenador dos químicos da Força Sindical na IndustriAll.

No Brasil, estão associados à IndustriAll a Confederação Nacional dos Trabalhadores Metalúrgicos (CNTM), Confederação Nacional dos Trabalhadores no Ramo Químico (CNTQ), Confederação Nacional dos Trabalhadores nas Indústrias do Setor Têxtil, Vestuário, Couro e Calçados – CONACCOVEST (Força Sindical), Confederação Nacional dos Metalúrgicos (CNM), Confederação Nacional do Ramo Químico (CNQ) e Confederação Nacional dos Trabalhadores na Indústria Têxtil, Couro e Calçado (CNTV -CUT).

Segundo Bicalho, entre os assuntos debatidos estão se as empresas cumprem o acordo coletivo ou não, se optam pela lei vigente de seu país de origem ou de países onde têm unidades instaladas. “Os sindicatos têm condições diferenciadas de luta. Os mais organizados e combativos  conquistam mais benefícios. Por exemplo, em alguns países as empresas permitem a sindicalização de trabalhadores, em outros não”, ressalta.

A Federação dos Químicos do ESP realizará um seminário entre 29 e 30 de outubro com seis empresas dos setores químicos, vidros, tintas e farmacêuticos.” Algumas estão começando a rede e outras estão mais adiantadas”, destaca Bicalho. No dia 2 de outubro, será a reunião da rede de empresas de fertilizantes na Praia Grande coordenada pelo sindicalista Hebert Passos, presidente do Sindicato dos Químicos de Santos.

Eunice Cabral, presidente do Sindicato das Costureiras de São Paulo e Osasco e da Conaccovest  (Confederação Nacional dos Trabalhadores nas Indústrias do Setor Têxtil, Vestuário, Couro e Calçados), declara que  “a realidade vivida pelo setor têxtil nacional mostra que a história se repete. Em muitos países a desindustrialização do setor foi o carro chefe de grandes crises”.

Segundo ela,” no Brasil vivemos um quadro alarmante: carga tributária elevada, diminuição significativa da produtividade e a concorrência desleal e desenfreada com os importados. A criação da IndustriALL e sua participação ativa no movimento sindical nacional, vêm de encontro com o descontentamento e ansiedade por ações eficazes e que conduzam a soluções”.

Para Mônica Veloso, vice-presidenta da CNTM (Confederação Nacional dos Trabalhadores Metalúrgicos), “as redes sindicais são um importante instrumento de debates, intercâmbio de informações e ações concretas de solidariedade entre a classe trabalhadora e o movimento sindical, no Brasil e no mundo”.

“A CNTM está elaborando um plano de ação e uma cartilha para o trabalho de Redes Sindicais ambos serão utilizados nas oficinas de capacitação de dirigentes sindicais. Um e-group sobre as Redes Sindicais está sendo criado para ser incorporado à página da CNTM na internet (www.cntm.org.br) e contribuir com o intercâmbio de informações sobre os fatos que ocorrem na base metalúrgica, tornando mais ágil as ações de solidariedade nacional e internacional na base metalúrgica”, informa.