Presidente da empresa pede financiamento mais barato para retomada do mercado;
grupo pretende demitir 20% de seu efetivo no ABC
O presidente da Mercedes-Benz do Brasil, Philipp Schiemer, afirmou ontem que ainda não é possível prever uma recuperação do setor automotivo brasileiro. Para ele, a mudança de cenário não ocorrerá nos próximos meses, pois deverá obrigatoriamente ser precedida de uma diminuição nos juros e de uma melhora nas perspectivas gerais da economia nacional.
“Tendo financiamento mais barato e acessível para as empresas, aí a gente pode ter um crescimento”, disse o executivo, que participou de um evento da Câmara Brasil-Alemanha em Porto Alegre (RS).
Schiemer evitou comentar os problemas enfrentados na fábrica de São Bernardo do Campo, no ABC paulista, que suspendeu a produção de caminhões e ônibus por tempo indeterminado a partir da última segunda-feira e começou a demitir trabalhadores por telegramas.
Questionado, disse que não falaria sobre o assunto pois a empresa está em meio a uma negociação sindical. De acordo com o Sindicato de Metalúrgicos do ABC, a Mercedes insiste na necessidade de cortar 20% de seu efetivo – ou 2 mil funcionários que considera excedentes.
Queda. O presidente da Mercedes afirmou ainda que tanto o mercado de caminhões como o de ônibus vão amargar, este ano, uma queda que pode chegar a 40%.
“Todo mundo sabe que o Brasil está passando por um momento difícil e o nosso setor é um dos que mais sofreram. Nós não achamos que isso vai se modificar nos próximos meses. Hoje, principalmente, os juros altos estão afetando muito os negócios. Se a gente não tiver melhora no financiamento e no crédito, vai ser difícil ter uma melhora sensível de mercado”, avaliou.
Ele também reclamou da volatilidade do câmbio. De acordo com o executivo, o problema não é a recente valorização do real, mas a falta de previsibilidade. “Qualquer câmbio tem vantagens e desvantagens. O que a indústria precisa é de uma estabilidade”, disse.
Segundo Schiemer, a boa notícia é que a queda do setor parece ter estacionado. “Agora achamos um piso. A gente talvez tenha chegado ao fundo do poço. Mas, por enquanto, não sentimos uma recuperação”.
Ele disse que não se arriscaria a prever quando a recuperação deverá ocorrer. “Isso depende de reformas que estão sendo discutidas (no País), que por enquanto não foram aprovadas. A gente torce para que isso aconteça, mas, no momento, infelizmente não podemos dar nenhuma previsão.”
Sem movimentação. Schiemer salientou que o mercado de ônibus está sofrendo bastante. Segundo ele, o segmento de ônibus urbanos, que foi “razoavelmente bem” no primeiro semestre, agora está parando por causa das eleições municipais, e o segmento rodoviário está “sem uma grande movimentação há muito tempo”. “O mercado de ônibus este ano deve ficar em 11 mil unidades aproximadamente, e três anos atrás era de 30 mil unidades”, disse.
De janeiro a julho, as vendas de caminhões da MercedesBenz caíram 23,3% em relação ao mesmo período de 2015, totalizando 8.783 unidades. O mercado total teve queda de 30,9%, para 30.273 caminhões. Já as vendas de ônibus da marca caíram 27,7%, enquanto no mercado total o recuo foi de 33,4%.