“Três contradições articulam-se no movimento sindical dos trabalhadores e precisam ser levadas em conta e resolvidas. Em cada uma delas apresento um problema correlato e como enfrentá-lo.
A primeira é a contradição entre a imensa massa de milhões de trabalhadores– em especial os novos trabalhadores jovens- e os sindicalizados que formam a estrutura sindical. Nos últimos anos, apesar do emprego formal crescente, a massa dos sindicalizados permanece a mesma, ou seja, a taxa de sindicalização deve ter caído.
O grave problema a ser enfrentado pelo movimento sindical é o da rotatividade. Ele, diferentemente da luta pelo aumento da participação dos salários na renda nacional que vem sendo vencida, é o grande obstáculo estratégico para o crescimento dos sindicatos; a aprovação da convenção 158, da OIT, que proíbe a dispensa imotivada é o primeiro passo no enfrentamento desta contradição.
Em seguida aparece a contradição entre a base sindicalizada, que goza da relativa vantagem de emprego e ganhos reais de salário e a direção sindical preocupada e articulada em torno da luta, justa e necessária, pela pauta trabalhista, que não tem tido avanços. As direções das centrais sindicais apontam corretamente o caminho da conquista de direitos, mas precisam de vitórias que as aproximem de suas bases e as conquistem para o esforço unitário.
O problema aqui é a insensibilidade da presidente Dilma para a pauta unificada dos trabalhadores que lhe aliena ou dificulta a aprovação e a simpatia da cúpula sindical. É preciso, com urgência, trilhar os caminhos da negociação, a começar pela nova discussão sobre a política de valorização do salário mínimo que se esgota em 2014.
A terceira e mais aguda contradição é a que existe entre a pauta unificada do conjunto do movimento e a dinâmica político-partidária visando as eleições gerais do próximo ano, que já perturba o movimento sindical.
O problema daí decorrente é o descasamento entre as iniciativas sindicais unitárias em torno de suas pautas e as iniciativas e orientações partidárias, interessadas principalmente em garantir uma correlação de forças favorável aos seus respectivos campos de influência, com plataformas coerentes ou demagógicas. Cada vez mais fica difícil ser, ao mesmo tempo, dirigente sindical unitário e ativista ou dirigente político partidário.
Para enfrentar esta e as outras contradições, ao mesmo tempo em que se organiza nas campanhas salariais específicas, o movimento sindical deveria começar a pensar na realização de uma nova Conclat- no Pacaembu ou no Itaquerão- capaz de lhe fornecer um guia unitário para a ação, convencer os políticos de seu protagonismo, e armar qualquer um de seus dirigentes com as reivindicações que dão corpo e alma à ação sindical consequente”.
João Guilherme Vargas Neto, Consultor Sindical