Arícia Martins e Tainara Machado | De São Paulo
O aumento de 6% dos investimentos no primeiro semestre e o forte desempenho da indústria automotiva no período levaram alguns segmentos a apresentar taxas de crescimento bem mais expressivas do que a média do setor manufatureiro de janeiro a julho deste ano. Entre altas e baixas mensais, a produção industrial avançou 2% na comparação com os mesmos meses de 2012, mas dez dos 27 setores pesquisados pelo IBGE cresceram mais. Dentre estes, sete conseguiram elevar sua produção em mais de 5%.
A fabricação de veículos, por exemplo, saltou 13,2%, incentivada por benefícios tributários e também por um importante incremento das exportações. Outros equipamentos de transporte, no qual estão caminhões e ônibus, se beneficiaram da retomada de investimentos e da baixa base de comparação e expandiram sua produção em 8%. O aumento da formação de capital fixo nos últimos dois trimestres também impulsionou o setor de máquinas e equipamentos, que subiu 5,1%, e de máquinas e materiais elétricos, com alta de 7,7% no período.
Na análise por categorias de uso da indústria, a maior variação foi observada nos bens de capital, cuja produção subiu 14,2% nos primeiros sete meses do ano. Segundo Rodrigo Baggi, analista do setor da Tendências Consultoria, o bom desempenho é explicado principalmente pelo subgrupo equipamentos de transporte, que contribuiu com quase 60% dessa alta, mas também foi disseminado entre os demais segmentos que compõem a atividade industrial: a produção de máquinas agrícolas aumentou 13% no período, enquanto a de bens de capital para fins industriais subiu 10% e a de bens de uso misto, 4%.
Baggi aponta três fatores por trás da reação acentuada dos equipamentos de transporte no primeiro semestre: o Programa de Sustentação do Investimento (PSI), do BNDES, que estimulou a demanda por veículos pesados ao oferecer juros reais negativos para financiamento dos bens; a necessidade de renovação da frota para reduzir perdas de produtividade e, por fim, as supersafras de grãos, que também explicam a produção maior de máquinas agrícolas.
No caso das compras de máquinas que ampliaram a capacidade produtiva, o analista da Tendências afirma que, além da redução de custos com o PSI, expectativas mais otimistas para o crescimento no início do ano elevaram a demanda do setor, movimento que foi observado com maior intensidade até maio. A partir de junho, porém, já houve perda de fôlego da produção e das vendas, trajetória que deve se aprofundar ao longo do segundo semestre. “Quando a confiança cai, os projetos de investimento são engavetados”, disse. Baggi ainda acrescenta que a maior volatilidade cambial também aumenta o nível de incertezas e deve moderar a produção do setor.
A Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq), que viu seu faturamento recuar 7,7% de janeiro a julho, não se animou com os resultados da indústria de bens de capital na mesma comparação. Para Mario Bernardini, assessor econômico da Abimaq, a alta de dois dígitos foi muito concentrada nos veículos pesados e não atingiu as empresas associadas, que, segundo um recorte do IBGE fornecido à entidade, produziram apenas 0,1% a mais na primeira metade do ano. “O investimento está poluído por dados que não são investimentos produtivos”, diz Bernardini.
Com periodicidade semestral, o Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi) calcula a variação da produção industrial dividida por faixas tecnológicas. Entre janeiro e junho deste ano, o destaque foi o segmento de média-alta intensidade tecnológica – composto pela indústria química, exclusive farmacêutica; montadoras de material de transporte e máquinas e equipamentos mecânicos e elétricos – com alta de 7% sobre igual período de 2012.
Segundo a economista Cristina Reis, uma baixa base de comparação impulsionou a produção nos dois últimos segmentos, mas os estímulos do governo também são explicações para a boa performance dessa parte da indústria. Já o setor químico, de acordo com Cristina, tem um elevado nível de correlação com a atividade econômica, que teve desempenho razoável no primeiro semestre.
Ainda entre os setores de maior intensidade tecnológica, a indústria de equipamentos médico-hospitalares e ópticos produziu 7,7% a mais nos sete primeiros meses deste ano. Para Ruy Baumer, diretor da Abimo, associação que reúne as empresas do setor, o bom desempenho do segmento ainda está bastante relacionado à demanda reprimida na área da saúde. “O mercado brasileiro de produtos médicos cresce entre 6% e 7% ao ano, diante do aumento de investimentos privados e públicos na saúde.”
Para Baumer, o setor também tende a ser beneficiado pela desvalorização do câmbio, que encarece o produto importado e dá mais competitividade ao similar nacional. Ainda assim, no primeiro semestre, as exportações do setor recuaram 9%, enquanto as importações aumentaram 14%.
A produção de calçados, que cresceu 6,1% no acumulado deste ano, já sentiu o impulso de uma melhora no saldo da balança comercial. De acordo com a Fundação Centro de Estudos do Comércio (Funcex), as vendas externas de couros e calçados aumentaram 10,4% nos sete primeiros meses do ano, em valor, sobre igual período de 2012, avanço bem maior do que o das importações, que subiram 1,1% no período.
Heitor Klein, presidente da Associação Brasileira das Indústrias de Calçados (Abicalçados), no entanto, não mostra otimismo em relação aos dados e atribui parte do avanço da produção a calçados mais simples, como sandálias de borracha. Para Klein, um sinal de que a atividade no segmento não está tão aquecida são os indicadores de emprego do setor. Segundo o IBGE, houve queda de 5,4% da população ocupada nesta atividade entre janeiro e julho, sempre na comparação com igual período do ano anterior, apesar da desoneração da folha de pagamentos.
Para a Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica (Abinee), os resultados mais favoráveis vistos neste ano são resultado de uma mudança na composição dos itens fabricados, com aumento da produção de itens de maior valor agregado, como tablets e smartphones. Já na área elétrica, são os investimentos em modernização de fábricas que estimularam a atividade no setor. “Houve um aumento da produção de equipamentos industriais de prateleira, mais voltados para a reposição e a manutenção de peças”, afirmou Luiz Cezar Rochel, gerente de economia da associação.
Para ele, a demanda por sistemas industriais de maior porte continua fraca, já que os empresários estão cautelosos em relação às expectativas para a economia. “As incertezas ainda permanecem e os empresários têm dificuldade em se basear em um cenário favorável e consistente para a atividade, em função da inflação perto do teto da meta, da volatilidade do câmbio, de certo abandono das metas para o setor público, juros em alta”.