A Volkswagen passou um ano nas mãos de um fornecedor que interrompia o fornecimento de peças por falta de entendimento nas negociações de preços. Diversas vezes foi obrigada a paralisar as três fábricas do Brasil e dispensar os funcionários. Ontem a montadora decidiu rescindir os contratos com esse fornecedor, o grupo Prevent, e apelou à Justiça para pedir de volta os equipamentos de sua propriedade que estão com ele.
É uma situação inédita na relação entre fabricantes de veículos e de autopeças. O problema envolve vários componentes importantes, como bancos e peças que formam a carroceria dos carros. Novos fornecedores já começaram a ser contratados pela Volks. Mas o desenvolvimento e teste de produção leva tempo. Por isso, a montadora, que já estava com as linhas paradas, vai dar férias coletivas.
Dos 18 mil funcionários que a Volks emprega em São Bernardo do Campo, Taubaté e São José dos Pinhais, cerca de 11 mil entrarão este mês em férias, anteriormente programadas para outubro.
Nos últimos meses, o grupo Prevent, de origem alemã, foi comprando no Brasil empresas que eram tradicionais fornecedoras de grandes montadoras, principalmente a Volks. A cada aquisição surgia um novo impasse nas negociações de preços, o que levou a várias paralisações no fornecimento de peças e na produção dos carros.
O desenvolvimento de um automóvel requer a nomeação de certos fornecedores exclusivos. Para produzir essas peças exclusivas eles usam equipamentos oferecidos pela montadora em regime de comodato, o chamado ferramental. “Normalmente quando um contrato de fornecimento assim é interrompido o ferramental é devolvido pacificamente”, afirma um produtor de autopeças que pede para não ser identificado. O caso da Volks, que teve de recorrer à Justiça, tem chamado a atenção em toda a cadeia do setor.
O grupo Prevent não pôde ser localizado para comentar a situação. Em comunicado, a Volkswagen explicou que a retomada das ferramentas de sua propriedade, via judicial, lhe permitirá restabelecer o ritmo normal de produção. “É uma medida que causa pesados custos à empresa”, informou. Por conta do impasse com esse fornecedor, até agora a Volks contabiliza 120 dias parados e perda de produção de 100 mil veículos.
Registro do Sindicato:
Recentemente, a Keiper, do grupo Prevent, comprou a Fameq, fornecedora da Volks, e estava, no sábado, dia 23, retirando maquinário da empresa sem comunicação aos trabalhadores e ao Sindicato. De forma rápida, o Sindicato bloqueou a ação e negociou um acordo garantindo uma indenização aos cerca de 200 funcionários. A fábrica foi fechada do dia pra noite.