Encontro em Brasília reúne ministros, empresários e sociedade civil.
Conselho de Desenvolvimento Econômico é presidido por Dilma.
Filipe Matoso, Laís Alegretti e Alexandro Martello
Do G1, em Brasília
Após um ano e meio sem reuniões, o Conselho de Desenvolvimento Econômico, conhecido como “Conselhão”, se reuniu na tarde desta quinta-feira (28) no Palácio do Planalto, em Brasília. O encontro faz parte da estratégia do governo federal para encontrar alternativas que levem o Brasil a superar a crise.
O ministro Jaques Wagner, da Casa Civil, foi o responsável por abrir o encontro. Ao ser anunciada, a presidente Dilma foi aplaudida de pé pelos integrantes do “Conselhão”.
“As pessoas precisam ter coragem de abrir suas convicções no debate com a sociedade. A verdade nossa não é necessariamente única e não é obrigatoriamente a melhor. Até porque a melhor verdade é aquela que brota do conflito de ideias”, disse Wagner no discurso de abertura.
“Eu estava dizendo, senhora presidenta, que as democracias mais maduras se utilizam dessa ferramenta do conselho”, afirmou o ministro no momento em que Dilma chegou ao salão onde ocorre a reunião.
A reunião do conselho foi fechada para a imprensa. Os jornalistas puderam acompanhar apenas o discurso inicial de Jaques Wagner e o início da fala do presidente do Bradesco, Luiz Carlos Trabuco Cappi. Até a última atualização desta reportagem, o conselho continuava reunido.
Para Trabuco, o que angustia a população brasileira neste momento é como tirar o país da recessão.
“Cada um de nos é protagonista do que o país é hoje. Todos somos perdedores, pois na recessão todo mundo perde. Cada um de nós tem uma pauta própria de como sair do imobilismo. Dentro da pautas de cada um, haverá intenções para uma pauta de convergências. É preciso criar consequências deste encontro para ações compartilhadas. A crise é diferente de todas as outras, mas precisa ser resolvida no curto prazo. No longo prazo, o Brasil sempre será terra de oportunidades pela infindável força de seus trabalhadores”, declarou ele.
Trabuco avaliou, porém, acreditar que o Brasil será um país vencedor. “Acredito que muitas coisas boas estão aí para dar início a essa retomada”, acrescentou.
Conselheiros
Ao chegar ao Palácio do Planalto para participar da reunião, o presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Robson Andrade, disse não acreditar que o fórum chegará a um consenso sobre as políticas que são necessárias para o país superar a crise econômica. Andrade é um dos 92 conselheiros que integram o grupo.
“Eu não acredito que a gente consiga, num fórum tão eclético, chegar a um consenso para conseguir [alcançar] as políticas e propostas adequadas para aquilo que o país precisa neste momento”, afirmou.
“É o governo quem precisa trazer propostas e mecanismos para aquilo que o Brasil precisa e contar com o fórum [Conselhão] para dar referência, legitimidade às propostas que ele [governo] quer implementar”, acrescentou o presidente da CNI.
O escritor Fernando Morais, que também é conselheiro, disse que é esperado que, num grupo com pessoas de diversas áreas, não haja um consenso. “O fato de ter pessoas que atuam em áreas tão diferentes, é deliberado isso. Não acredito que conseguirá consenso num colegiado tão grande”, disse. Segundo ele, o conselho é capaz de dar “contribuições interessantes”.
Morais afirmou, ainda, que tentará apresentar propostas em nome de um grupo. “Vou procurar me articular ao longo do tempo com as pessoas mais próximas para poder, em vez de ficar cada um fazendo seu próprio discurso, trabalhar em conjunto, apresentar propostas em nome de um grupo”, disse.
O conselho
Criado em 2003 no governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o conselho é presidido pela presidente Dilma Rousseff. Neste ano, ele será composto por 92 integrantes – antes eram 90 – que representam empresários, movimentos sociais, sindicatos e a sociedade civil.
A última reunião do grupo ocorreu em junho de 2014. Segundo o governo, o conselho foi renovado em 70% dos integrantes (veja a lista completa aqui).
Entre os nomes que deixaram o Conselhão, estão os empresários Marcelo Odebrecht e José Carlos Bumlai, presos pela Polícia Federal na Operação Lava Jato. Nesta primeira reunião do Conselhão em 2016, a presidente quer colocar em pauta meios de retomar o crescimento econômico sem elevar ainda mais a inflação. O tema do encontro será “Caminhos para o desenvolvimento brasileiro”.
O objetivo da presidente é coletar sugestões dos conselheiros que possam ser incorporadas em projetos que o governo pretende encaminhar ainda no primeiro semestre ao Congresso Nacional.
Conforme o G1 havia mostrado, esta será a primeira vez que as empregadas domésticas terão uma representante no conselho, Creuza Oliveira, presidente da Federação Nacional das Trabalhadoras Domésticas (Fenatrad).
O ator Wagner Moura, que também passou a integrar o grupo, não estará presente à reunião desta quinta porque está na Colômbia gravando a segunda temporada da série “Narcos”, que retrata a vida do traficante Pablo Escobar.
Além deles, estão entre os conselheiros Robson Andrade (CNI), Cláudia Sender (TAM), Frederido Fleury (Embraer), Miguel Nicolelis (neurocientista), Roberto Setúbal (Itaú), Viviane Senna (Instituto Ayrton Senna) e Abílio Diniz (BRF).
Programação
Após a fala de Wagner, representantes dos empresários e da sociedade discursarão. Pelo lado das empresas, se pronunciarão Luiza Trajano (Magazine Luiza), Luiz Moan (Anfavea), Luiz Trabuco (Bradesco) e Márcio Lopes (OCB).
Já do lado das entidades da sociedade civil, vão falar Carina Vitral (UNE), Vagner Freitas (CUT), Miguel Torres (Força Sindical) e Alberto Broch (Contag).
No encontro, após essas declarações, se pronunciarão os ministros Alexandre Tombini (Banco Central), Nelson Barbosa (Fazenda), Armando Monteiro Neto (Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior), Kátia Abreu (Agricultura) e Valdir Simão (Planejamento).