BRASIL INTERROMPEU AVANÇOS SOCIAIS EM 2015, APONTA ESTUDO DO IPEA

Índice de vulnerabilidade piorou, na comparação com 2014

Em 2015, o Brasil parou de melhorar em algumas conquistas sociais, segundo estudo do Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas (Ipea) divulgado nesta quarta-feira. O chamado Índice de Vulnerabilidade Social (IVS), que mede esses avanços, registrou leve alta naquele ano, na comparação com 2014. O número passou de 0,243 para 0,248. O indicador vai de 0 a 1: números maiores mostram situação de vulnerabilidade maior. Apesar da alta, o país continua na faixa de vulnerabilidade baixa, entre 0,201 e 0,300.

O IVS é calculado a partir do comportamento de 16 variáveis classificadas em três categorias: infra-instrutora urbana; capital humano (como saúde e educação); e renda e trabalho. A piora do indicador em 2015, após uma seqüência de avanços registrada consecutivamente desde 2000, foi influenciada pelo comportamento da variável de renda e trabalho, que aumentou de 0,24 para 0,266 – ou seja, piorou. A variação coincide com o início da recessão econômica brasileira. Os outros indicadores continuaram a registrar queda: infra-instrutora urbana caiu de 0,222 para 0,214, enquanto o de capital humano recuou de 0,267 para 0,263.

Por e-mail, Marco Aurélio Costa, técnico de planejamento e pesquisa do Ipea e coordenador do estudo, afirmou que a crise tem efeito sobre o resultado, já que a componente de renda e trabalho é influenciada negativamente pela queda da atividade econômica e da alta do desemprego.

“Esses indicadores são sensíveis ao desempenho da economia, de modo que, sem dúvida, a alta no índice está correlacionada com uma piora dos indicadores que respondem mais diretamente a oscilações no nível da atividade econômica. A recessão tende a se refletir em menor atividade econômica, maiores níveis de desemprego e precarização do trabalho, com avanço da informalidade. Esses indicadores afetam o IVS”, afirma o pesquisador.

Os dados fazem parte do Atlas da Vulnerabilidade Social. As informações de 2000 e 2010 são baseadas nas duas edições do Censo Demográfico. Já os números de 2011 a 2015 foram elaborados com base na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad). No entanto, as informações são comparáveis, afirmou o Ipea.

Entre 2000 e 2010, o IVS recuou 27%, refletindo a melhora dos indicadores de qualidade de vida no período. Na década passada, o Brasil mudou de faixa: de alta para média vulnerabilidade. Entre 2010 e 2011, nova redução de 18% levou o país à posição de baixa vulnerabilidade, abaixo de 0,3. Nos anos seguintes, esse ritmo diminuiu: entre 2011 e 2015, o índice diminuiu apenas 7%.

“Apesar de mantida a tendência de redução da vulnerabilidade social nos últimos cinco anos analisados, constata-se a perda desta dinâmica em comparação ao período anterior. Além disso, a partir de 2014, o IVS não apresentou redução de valores, mas sim um aumento de 2%, saindo de 0,243 em 2014 para 0,248 em 2015. Este pequeno aumento de 0,005 pode significar um ponto de inflexão na curva da redução da vulnerabilidade social”, destaca o relatório.

NORTE E NORDESTE PUXAM ALTA EM 2015

A reversão de tendência observada no país foi puxada pelo comportamento das regiões Norte e Nordeste, onde os índices passaram a subir, após melhores seguidas entre 2011 e 2014. Em 2015, as duas regiões se mantinham como as únicas do país classificadas na faixa de média vulnerabilidade (acima de 0,300). Na comparação com 2014, o indicador subiu de 0,359 para 0,361, no Nordeste, e de 0,339 para 0,348, no Norte.

Nas demais regiões do país, a tendência de queda foi mantida, embora mais lentamente do que o registrado na década passada. No Centro-Oeste, o IVS passou de 0,25 para 0,243, no Sul, de 0,21 para 0,2 e, no Sudeste, de 0,207 para 0,198 — o que coloca a região na faixa de vulnerabilidade muito baixa (abaixo de 0,200).

Em relação às regiões metropolitanas, o destaque negativo ficou por conta de Recife, onde a vulnerabilidade saltou 16% entre 2011 e 2015. Também houve piora nas regiões de Porto Alegre (0,4%) e São Paulo (2%). No Rio de Janeiro, a vulnerabilidade caiu 1,4%, para 0,274, índice considerado baixo, um pouco acima da média nacional. Marco Aurélio Costa, do Ipea, destacou a situação de Recife:

— É um dado preocupante, que talvez tenha a ver, refletindo, os indicadores de segurança pública para a região.

DIFERENÇA DE VULNERABILIDADE ENTRE NEGROS E BRANCOS

O relatório indica ainda a desigualdade de condições sociais entre negros e brancos. Entre 2000 e 2010, o IVS dos negros se manteve muito maior que o dos brancos, diferença de quase 50%. Em 2015, essa discrepância foi reduzida, mas se manteve significativa, na avaliação do Ipea, em 37%.