OMC vê recessão com guerra comercial

O Estado de S.Paulo Terça-Feira, 6 de março de 2018 – caderno Economia página B7

Brasil e 37 países se unem para pressionar Donald Trump a desistir de sobretaxar aço

Jamil Chade / Genebra

O Brasil se uniu a um grupo de outros 37 países para protestar nesta segunda-feira, 5, na Organização Mundial do Comércio contra os planos do governo de Donald Trump de impor novas tarifas contra a importação do aço. Diplomatas brasileiros, assim como todas as demais nações, fizeram um “pedido” para que a Casa Branca desista de sua decisão, sob o risco de fazer eclodir respostas e retaliações com “sérias conseqüências”.

A pressão foi solenemente ignorada pelos americanos nas reuniões diplomáticas, que simplesmente não tocaram no assunto das barreiras e preferiram falar de pesca e outros temas marginais.

Num alerta atípico, a direção da OMC apontou que se o mundo optar por aplicar tarifas e retaliações, a economia global corre o risco de entrar em uma “recessão profunda”. Não por acaso, os esforços nos bastidores estão sendo para tentar impedir que Trump vá adiante com o plano.

Na semana passada, Trump indicou que planeja elevar a tarifa de importação de aço e alumínio em 10% e 25%. O que ainda preocupa é que, para justificar o protecionismo, a Casa Branca alegou motivos de segurança nacional. O anúncio levou vários governos a alertar sobre uma eventual retaliação, inclusive com a decisão da Europa de aplicar respostas contra produtos de alto perfil dos EUA avaliados em 3,5 bilhões de euros.

Por enquanto, a queixa dos governos não ocorre na forma de uma disputa comercial nos tribunais da entidade. Mas governos de todo o mundo aproveitaram uma reunião em Genebra para alertar o governo americano sobre os riscos da decisão que estão prestes a tomar e fazer ameaças.

Nesta segunda-feira, 5, a União Europeia voltou a fazer a advertência. A UE não hesitou em fazer ameaças. Se tal proposta for adiante, a UE deixou claro que vai adotar medidas que “não interessaria a ninguém”. Bruxelas, nos bastidores, indicou ainda que vai iniciar consultas para tentar organizar uma queixa comum entre os principais países do mundo contra os EUA.

Retaliações

As ameaças também vieram do Canadá, o maior parceiro comercial americano. Ottawa alertou que a decisão é “inaceitável” e que irá responder com medidas para “defender seus trabalhadores”.

A China foi ainda mais explícita. “Todos sentimos o cheiro de uma guerra comercial”, alertou. Pequim indicou que apenas os tribunais da OMC poderiam impedir “retaliações terríveis”. O problema, segundo os chineses, é que esses tribunais estão minados por uma recusa justamente do governo americano em aceitar a nomeação de novos juízes.

Diante da paralisia dos tribunais de sua organização e do risco de uma proliferação de medidas protecionistas, o brasileiro Roberto Azevêdo, diretor-geral da OMC, tomou a palavra para alertar aos governos sobre o impacto negativo que uma guerra comercial teria.

Liderança republicana pede que Trump volte atrás

Presidente dos EUA, porém, diz que não vai recuar e lança nova ameaça; agora, diz que pode acabar com o Nafta

WASHINGTON – Principal liderança do Partido Republicano no Congresso dos EUA, o presidente da Câmara dos Deputados, Paul Ryan, pediu nesta segunda-feira, 5, que o presidente Donald Trump abandone sua decisão de impor tarifas unilaterais sobre a importação de aço e alumínio pelo país. Sua posição encontrou eco em grande parte da bancada governista, que teme o impacto negativo de potenciais retaliações sobre as eleições legislativas de novembro.

“Nós estamos extremamente preocupados com as consequências de uma guerra comercial e urgimos a Casa Branca a não avançar com esse plano”, declarou o porta-voz de Ryan em nota divulgada na manhã desta segunda-feira. “A nova lei de reforma tributária estimulou a economia e nós certamente não queremos colocar esses ganhos em perigo”, ressaltou, fazendo referência ao corte de US$ 1,5 trilhão em impostos aprovado em dezembro.

Trump rejeitou o apelo em rápida conversa com jornalistas durante encontro com o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu. “Não, nós não vamos recuar”, afirmou. Em seguida, o presidente vinculou a possibilidade de exclusão do Canadá e do México da medida ao resultado da renegociação do Nafta (acordo de livre circulação de mercadorias e serviços entre EUA, Canadá e México).

“Se nós chegarmos a um acordo que seja justo para os trabalhadores e o povo americano, isso seria, eu imagino, um dos pontos que nós negociaríamos. E se nós não chegarmos a um acordo, eu vou acabar com o Nafta.”

A Casa Branca deve divulgar nos próximos dias os detalhes das tarifas. Na semana passada, Trump anunciou apenas as alíquotas que serão aplicadas: 25% para o aço e 10% para o alumínio.

Segundo maior exportador de aço para os EUA, o Brasil pede sua exclusão da barreira sob o argumento de que suas exportações são complementares à indústria americana. Cerca de 80% dos embarques brasileiros são formados por produtos semi acabados, que são finalizados em siderúrgicas dos EUA.

Por enquanto, Trump não deu indícios de que esteja disposto a abrir exceções. “Nosso país, no comércio, foi dilacerado por virtualmente todos os países do mundo, seja amigo ou inimigo.”