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Com mão de obra barata e automação, China mata competitividade brasileira

PAULO FELDMANN
Nos primeiros sete meses deste ano, cerca de 97,9% do que compramos dos chineses foram bens industrializados, ante apenas 15% do que a eles exportamos.
Os manufaturados chineses são muito baratos quando comparados com o seu equivalente daqui. Por quê? Em primeiro lugar, a mão de obra na China custa a quinta parte da brasileira, e esse ainda não é o principal fator que os favorece.
Quase tudo que estamos comprando, como brinquedos, roupas, eletrônicos e computadores, são lá produzidos em fábricas robotizadas, com pouco emprego de mão de obra.
Diferentemente do Brasil, na China existem grandes incentivos para investir em modernização, sem contar o baixo juro dos financiamentos. Além disso, o governo chinês atua em várias áreas para ajudar a indústria. Uma delas é a formação de engenheiros. Enquanto o Brasil forma 30 mil engenheiros por ano, a China forma 450 mil.
Outra área é a infraestrutura. Graças a isso, a China é, hoje, o segundo país do mundo em número de aeroportos com nível internacional. A China tem uma malha ferroviária quatro vezes maior que a brasileira, que, por sinal, é uma das mais precárias do mundo. É muito mais barato transportar bens e produtos dentro da China.
A China possui uma carga tributária muito menor. Enquanto arrecadamos 33,58% do nosso PIB em tributos, eles arrecadam apenas 19%. Por isso, até a nossa energia elétrica hoje é caríssima.
Em suma, todos os insumos no Brasil são mais caros, e nossos produtos acabam saindo da fábrica com um valor não competitivo. Qual a saída? Proibir produtos chineses via reserva de mercado ou aplicar a eles Imposto de Importação ainda maior?
Nenhuma delas aumentaria nossa competitividade e ambas seriam condenadas pela OMC. O próximo governo deverá centrar suas atenções nas reformas tributária e fiscal. É fundamental desonerarmos nossos produtos.
Além disso, há que se conseguir acelerar as obras e projetos ligados à construção e à melhoria da nossa infraestrutura. Para isso, temos de aumentar nossa taxa de poupança, que é baixíssima.
Mas a principal medida é investir em educação e aumentar muito a formação de engenheiros capacitados não só para trabalhar na construção dessa infraestrutura, mas principalmente para atuar na indústria de manufatura, descobrindo processos que possam reduzir o preço de nossos produtos.
PAULO FELDMANN é professor da FEA-USP.