Giuliander Carpes
Do UOL, no Rio
Julia, 2, já consegue ler algumas palavras e contar até dez. Caio, 7, tornou-se mais maduro do que as crianças de sua idade, segundo a mãe. Ambos ingressaram na escola antes de completarem seis meses de idade e refletem uma tendência cada vez mais clara segundo a Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios) 2012, divulgada pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) nesta sexta-feira (27).
A pesquisa indicou que a taxa de escolarização das crianças de cinco e seis anos já atingiu 92%. Em 2002, apenas 77,2% delas estavam na escola com estas mesmas idades. “As crianças estão entrando na escola cada vez mais cedo. Os motivos são inúmeros”, afirma Maria Lúcia Vieira, gerente da Pnad.
A universalização da educação infantil no país é a primeira meta do PNE (Plano Nacional de Educação), que tramita no Senado Federal. A proposta é aumentar em 50% o atendimento a crianças com até três anos até 2020 – há estudos que destacam os benefícios da escola no desenvolvimento de indivíduos nesta faixa de idade. E universalizar o acesso na faixa etária dos quatro e cinco anos, até 2016.
Mas os pais também têm percebido a necessidade de matricular seus filhos em creches e escolas cada vez mais cedo por outras razões. “Não tínhamos outra opção, na verdade. Eu e o pai dele trabalhamos e não queríamos deixá-lo com a babá o dia inteiro”, diz a mãe de Caio, Daniela Gitirana Bartolomeu Verçoza, que colocou o filho “para estudar” com quatro meses e meio de idade. “Mas na escola ele se desenvolveu mais.”
Julia ingressou na creche onde a mãe trabalhava com três meses e meio. Teve gripes e resfriados mais frequentes, mas seus pais não se arrependem. “Se pudesse voltar atrás, talvez não colocasse tão pequena. Deixaria completar seis meses. Mas a escola é uma maneira dela aceitar os outros”, afirma a pedagoga Juliana Heinzmann. “As crianças nesta idade acabam sendo muito egoístas.”
Jovens: mais tempo na escola e trabalho mais tarde
As pessoas não estão só entrando na escola mais cedo, como permanecendo mais tempo. Em 2012, os jovens de 20 a 24 anos declararam ter passado, em média, 9,9 anos estudando ao longo da vida. Em compensação, pessoas com 60 anos ou mais informaram ter estudado apenas 4,4 anos em média.
Para os jovens de 15 a 17 anos de idade, o percentual dos que frequentavam escola foi de 84,2%, proporção um pouco superior à observada em 2011 (83,7%.). Este número era de 81,5% dez anos antes da pesquisa.
Os pais também têm optado por ter menos filhos, uma tendência observada há anos pela Pnad. A população jovem tem diminuído em todas as faixas de idade até os 24 anos. Em 2004, a base da pirâmide era bem mais larga que em 2012: 42,8% da população era representada por pessoas de até 24 anos. Oito anos depois, para a mesma faixa etária, o percentual caiu para 39,6%.
A região Norte é a que apresenta, segundo o levantamento do IBGE, a maior concentração relativa das faixas etárias mais jovens, atingindo 48,8% para pessoas com até 24 anos.
Por outro lado, os jovens protagonizam uma situação preocupante: começam a trabalhar cada vez mais tarde. Os grupos etários compreendidos por pessoas de 20 a 29 anos apresentaram tendência de perda de participação entre os ocupados (de 24,87% da população economicamente ativa em 2011 para 24,13% em 2012). E 34,6% dos desocupados têm idades entre 18 e 24 anos – 0,7% a mais que no ano anterior.
Como previsto pelas análises anteriores do IBGE, os jovens são o grupo etário que mais acessa a internet. Na Pnad 2012, observou-se que o grupo entre 15 e 17 anos tem o maior percentual de pessoas que acessam a rede: 76,7%.