O número de brasileiros trabalhando longe da cidade onde mora dobrou nos últimos dez anos, segundo dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Especialistas afirmam que o crescimento do País na última década consolidou vocações econômicas de alguns municípios, aumentando o intercâmbio entre as cidades que formam as principais regiões metropolitanas do Brasil.
De acordo com dados do Censo 2000, 7,4 milhões de pessoas precisavam mudar de cidade para trabalhar, enquanto 14,3 milhões fizeram o mesmo em 2010. No Rio de janeiro, 1,2 milhão de cariocas mudam de município para trabalhar, no Rio Grande sul, são 652 mil pessoas, seguido por Paraná, (594 mil), Pernambuco (557 mil), Goiás (451 mil) e Bahia (443 mil).
Mas no Estado de São Paulo a tendência impressiona tanto que o governo do Estado encomendou à Empresa Paulista de Planejamento Metropolitano (Emplasa) e à Unicamp um estudo sobre esse intercâmbio e chegou ao número de três milhões de pessoas se movimentando regularmente para trabalhar entre os 173 municípios que compõem cinco regiões metropolitanas: Baixada Santista, Campinas, Litoral Norte, Vale do Paraíba e São Paulo.
Embora o crescimento populacional destas regiões tenha sido de 1% entre 2000 e 2010, os deslocamentos de pessoas para trabalho ou estudo disparou 76% no mesmo período. “No ano 2000 havia 1,6 milhão de paulistas trabalhando longe de casa”, compara o geógrafo professor da PUC de Campinas Ednelson Mariano Dota, que participou do estudo. “Esse aumento está ligado à dinâmica econômica do País na última década.”
O estudioso explica que a vocação de cada cidade ao longo da história define aquelas que, em momento de crescimento econômico, se consolida como cidade dormitório ou industrial. “Algumas mais industriais cresceram ainda mais nos últimos anos e concentraram empregos, mas não ofereceram habitação na mesma proporção”.
Diretora de Planejamento da Emplasa, Rovena Negreiros garante que “a maior parte desses deslocamentos é feita por homens com idade entre 45 a 55 anos com escolarização alta, de nível superior”, o que também é uma novidade.
“Tem gente que vive em Campinas ou Jundiaí, mas poderia morar em São Paulo. Nos anos 1970, essas pessoas tinham baixa escolaridade, mas hoje não é mais só isso. Tem gente que faz questão de morar longe de onde trabalha”.
Batizada de macrometrópole paulista, essas regiões metropolitanas abrigam mais de 30 milhões de pessoas e respondem por mais de 80% do Produto Interno Bruto (PIB) paulista. Por essa razão, os especialistas concordam que seus principais problemas precisam ser resolvidos de maneira integrada.
“Essas economias estão cada vez mais dependentes e precisam ser articuladas. O que se produz em São José dos Campos é exportado pelo Porto de Santos, e o que se produz em São Paulo sai pelo aeroporto de Viracopos [em Campinas]”, pondera a diretora.
Rovena acredita que a dificuldade de alocar recursos para promover essa integração pode ser diminuída com a intervenção do governo estadual. “Dificilmente os municípios têm dinheiro para financiar. O Estado tem mais capacidade por ter mais acesso ao recurso ao fazer uma Parceria Público-Privada (PPP) ou pedir empréstimo ao Banco Nacional de Desenvolvimento (BNDES) e ao Banco Mundial”.
“O IBGE mostra que esses deslocamentos são uma tendência nacional e é preciso estudá-la a fundo”, conclui o professor.
Fonte: Brasil econômico e IG